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Autor Tópico: Amputados. Fisicamente, sim. Emocionalmente, não  (Lida 936 vezes)

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Offline Pantufas

 
Amputados. Fisicamente, sim. Emocionalmente, não

Blog Mão na Roda
 
Semanas atrás tive uma conversa com uma amiga sobre as postagens que fiz a respeito da acessibilidade nos motéis. Recebi um feedback e uma sugestão... Entenda através de um “trecho” do nosso bate-papo...
 
– “(...) posso dar um pitaco?”.
– Deve.
– “De forma geral na internet muito se fala de pessoa com deficiência cadeirante e pouco com outras deficiências, como próteses. Eu tive um lance com um sujeito que usa prótese. E não acho muito a respeito até de rotina (...)”
– Hummm... taí uma “coisa” que realmente passa batido...
– “Pra quem nunca teve um relacionamento com uma pessoa com deficiência, tudo é novo. E é mentira falar que não tem um estranhamento inicial. (...) Como ninguém fala a respeito, não tem nem com quem conversar”.
 
Continuamos nossa conversa com algumas confidencialidades e opiniões pessoais. Esperei alguns dias até retornar ao tema que abrange relacionamentos, rotinas, sexualidade, sentimentos das pessoas com deficiência. Hoje, especialmente sobre os “amputados”. Encarnei o mini Sherlock Holmes que existe em mim e saí internet afora procurando pessoas sem algum membro. No início senti-me um cliente no açougue escolhendo qual parte do corpo levar ou deixar. Enfim, você me entendeu...
 
O lugar ideal pra eu encontrar pessoas amputadas a fim de se relacionarem foi em sites de relacionamentos (que original). Confesso que me senti o Tom Cruise em “Missão impossível”, ou quase. Por quê? Simples (não deveria), as pessoas com deficiência se escondem atrás de avatares ou fotos que escondem suas deficiências. Estranho, não é? Pois bem... Entretanto usando meu dom de persuasão, consegui entrar em contato com algumas dessas pessoas. Pedi que me contassem um pouco de suas rotinas e o motivo que as levaram ter um perfil em sites como aquele.
 
Confesso que fiquei surpreso ao tomar nota das dificuldades que, eu sendo deficiente não imaginava que os amputados enfrentam. Relendo a conversa que tive com minha amiga lá no início desse texto, concluí o quanto a classe das pessoas com deficiência precisa ser estudada, comentada, revisada, questionada enfim... Nós mesmos não nos conhecemos. Tracei esse comportamento como clubinhos de fraternidade. Por exemplo, cegos se relacionam bem mais com outros cegos. Os cadeirantes lutam pela acessibilidade para cadeirantes como rampas, elevadores, transporte público etc. Os surdos querem educação inclusiva pra os surdos como intérpretes em salas de aula etc. Precisamos de união. Um por todos e todos por... Não, calma aí. Não vou exagerar. Mas acredito que a luta pela acessibilidade, pela inclusão deve ser de todos para todos.
 
Antes de nossas deficiências somos pessoas. Sabemos que pessoas são falhas, egoístas e mesquinhas mesmo que inconscientemente. Eu confesso meu egocentrismo ao escrever muito mais sobre minhas limitações e as dos semelhantes, afinal eu tenho certo domínio em falar dos direitos e deveres, demandas e soluções dos deficientes “cadeirantes”. Contudo a terminologia adequada para qualquer um que seja deficiente é “PESSOA COM DEFICIÊNCIA”. Ou seja, “Maria’S” com deficiência, “Paulo’S” com deficiência... Cadeirantes, cegos, surdos, amputados, autistas, Downs... Todos nós somos “PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS”, portadores de direitos e deveres, demandas e soluções, sonhos e realizações, incertezas e convicções, medos e ousadias etc.
 
As pessoas amputadas que encontrei, tiveram certo receio de se abrirem de imediato. Foi trabalhoso convencê-las de que as pessoas sem deficiência querem e precisam saber mais sobre esse universo “tímido” que está sempre na defensiva quando o assunto são suas deficiências. As mulheres, especificamente duas, não abriram mão de suas privacidades. Toparam em conversar, me ensinaram muita coisa, mas com a garantia de que eu manteria seus anonimatos. Então vou explicar resumidamente os principais pontos em comuns que ambas, “amputadas” lidam dia-a-dia.
 
A primeira vou chamá-la de “Maura Muty Ladda”. Policial aposentada, 42 anos, divorciada e que aos 37 anos perdeu a perna esquerda num acidente automobilístico. Loira, muito bonita, sem filhos e cheia de vida, mas ainda encontra-se em processo de aceitação do novo corpo.
 
A segunda é uma senhorita que a chamarei de “Ednalva Extyrpada”. Estudante, solteira, 26 anos, também com amputação da perna esquerda, mas devido a um atropelamento há um ano e oito meses. Seria desnecessário salientar, mas ela também encontra-se num processo muito íntimo de aceitação de seu novo corpo.
 
Tanto pra senhora “Maura Muty Ladda”, quanto para senhorita “Ednalva Extyrpada”, fiz as mesmas perguntas logo após uma breve apresentação e explicação do motivo de eu contatá-las. Funcionou assim:
 
“Qual a diferença da mulher “Maura/Ednalva” de hoje em comparação com a mulher antes do acidente?”
 
Maura respondeu: “Apesar de ter cinco anos que perdi a perna, ainda soa muita estranheza quando vou me relacionar com alguém. Hoje eu tô incompleta, querendo ou não esse é o termo. Antes eu tinha corpão, andava no salto, tinha um marido parceiro pra todas as horas, mas que nos separamos logo após o acidente. Quando eu colocava um vestido mais curtinho eu me sentia desejada, na verdade eu era sabe... meu ex-marido morria de ciúmes quando eu deixava as pernas à mostra. Eu tinha pernas bonitas. Hoje, eu uso mais calça jeans, aprendi gostar de tênis, não vou mentir pra você que sinto orgulho do meu corpo, não sinto mesmo. Mas estou a cinco anos lutando pra eu me derreter de amores, orgulho dessa nova condição. Eu era muito vaidosa, estou tentando ser aquele mulherão antes de ter entrado naquele carro no dia da batida.” (SIC)
 
Ednalva respondeu: “(...) antes eu era bem baladeira, muito confiante e super seletiva com relacionamentos. Depois do acidente eu fiquei mais tímida, eu não era nada tímida. Ainda to aprendendo a andar com a prótese, dói muito, incomoda e por mais moderna que seja não é nada bonita. Acho que os boys se assustam quando veem que sou deficiente. Meu pai sempre foi meu amigão, chamo ele de ursão, ele sempre me apoiou, faz de tudo pra eu me sentir melhor. Acho que antes eu não enxergava esse cuidado dele sabe? Hoje eu sei que ele sempre foi assim, mas só to entendo agora. Minha evolução na fisioterapia, as consultas com o psicólogo, tudo do tratamento eu faço mais por causa dele. Ele que me põe pra cima, a gente sai. Na verdade eu saio mais com ele do que com as minhas amigas. (SIC)
 
“Você me contou que teve relacionamentos sérios. O que levou ao término? De quem foi à iniciativa de terminar?”
 
Ednalva respondeu: “Eu nunca namorei sério. Sempre ficava uns dois, cinco meses. Eu era muito irresponsável. Na verdade tudo isso que aconteceu parece que me deu outra mente. Vejo as coisas com um olhar mais profundo. Na semana que fui atropelada eu tinha conhecido um boy numa festinha, ele é residente de medicina, muito gente boa. A gente tava ficando e alguns minutos antes eu tinha acabado de enviar uma mensagem pra ele, daquelas bem românticas, parece que a gente ia acabar namorando, foi diferente dos outros meninos. Mas aí aconteceu tudo e quando ele soube do acidente nunca mais me atendeu, nem ligou pra disfarçar, nossa senhora juntou tudo que estava acontecendo e eu receber uma rejeição sem nenhum pingo de compaixão foi o que me deixou muito abalada. Mas hoje eu lembro dele e fico com dó. Quem perdeu foi ele. (SIC)
 
Maura respondeu: “Eu fui casada por 20 anos, na verdade ele foi meu primeiro homem. Quando a gente casou eu tinha 17 e ele 22, no início a gente não queria filhos, mais tarde descobrimos que não poderíamos ter filho, ele é estéril e eu tenho só uma trompa o que já dificultava uma gravidez normal, hoje eu agradeço a Deus por não ter filho, porque eu não ia dar conta com tudo que aconteceu. Uns meses depois da batida eu ainda tava desconcertada pra dormir com ele. Era estranho, mas ele não entendia. Foi ficando difícil e eu acabava cedendo, mas depois virava pro canto e chorava. Não por culpa dele, ele sempre foi muito gentil, mas eu não estava completa pra ele, era um medo tão grande dele me rejeitar, só que ele não rejeitou e o medo virou pavor dele só continuar comigo por dó. Mas (...) quase um ano depois de tudo eu pedi pra separar, não queria travar a vida dele. Ele não queria de jeito nenhum, ficou bravo, envolveu minha família, mas eu só pensava que ele tava comigo por dó mesmo, achava que a primeira mulher que ele encontrasse me trocaria por ela, coisa de mulher. (...) aí eu que saí de casa, voltei pra casa da minha mãe e a gente foi perdendo contato de vez, eu sei que hoje ele mora em outra cidade, não casou, mas namora uma professora (...)” (SIC)
 
“Você ainda está em processo de aceitação. Eu super entendo e compreendo. Mas de onde surgiu coragem pra se aventurar aqui nesse site? O fato do primeiro contato ser virtual te proporciona mais segurança?”
 
Maura respondeu: “(...) na verdade eu cansei de ficar sozinha. Quando eu soube que o “FULANO” tava namorando, me culpei muito de ter deixado ele ir embora, só que já era tarde (...), eu decidi arriscar naquele site “######”, conhece? (...) coloquei só foto de rosto ou do tronco pra cima. Apareceu algumas pessoas interessantes, eu conversei com alguns, mas deixei pra falar sobre o acidente por ultimo, lógico que uns que queria só aproveitar acabaram saindo e não entraram mais em contato. Só que um moço quis me conhecer de qualquer jeito, ele começ (...)... eu acabei aceitando e a gente ficou de primeira, na verdade ele que me fez sentir que eu tava viva e podia sair com quem eu quisesse. A gente ficou mais algumas vezes, só que ele era casado, aí eu dei um jeito de afastar, mas depois fiquei mais segura pra marcar outras saídas.” (SIC)
 
Ednalva respondeu: “(...) foi estranho, minha prima que me cadastrou. Ela colocou foto, montou meu perfil e começou conversar com uns meninos se passando por mim. Ela só me contou quando tinha uns três encontros marcados, mas nada de coisa séria, só pra conhecer mesmo. Eu li tudo que ela falou, quase fiquei sem conversar com ela, mas ela me convenceu (...) eu aceitei e fui saindo e ela sempre junto, ficava por perto enquanto eu conhecia os boys até que rolou com um boyzinho, a gente fica de vez em quando, mas eu não quero namorar pra valer. Quero ficar bem comigo primeiro (...)” (SIC)
 
“Sobre a amputação em si, o que é mais complicado no dia-a-dia? Você precisa de muita acessibilidade? Como funciona?”
 
Maura respondeu: “No começo foi muito complicado, eu uso uma prótese transfemural, porque eu perdi a perna acima do joelho. Essa prótese é muito difícil no início. As pessoas acham que é só calçar e andar, mas não é. Ela é muito pesada, eu precisei fazer muita fisioterapia pra aprender usar minha coxa na marcha com a prótese. Ate hoje eu faço academia e foco mais na minha musculatura do lado esquerdo que é a que exige mais de mim. (...) se eu não contar que uso prótese ninguém percebe, eu desenvolvi uma marcha bem suave e natural, também eu não me descuido. (...) o mais chato é quando tenho que ir ao banco, ou aeroporto e preciso passar no detector, ando com meu laudo na bolsa, mas mesmo assim tenho que me expor mostrando a perna, isso é muito fo#@. (...) não faço questão de elevador, rampa, pois me esforço o máximo pra eu não ficar debilitada. No meu prédio eu só uso as escadas, tem dia que dói muito, meu personal fica bravo, mas eu me sinto ativa assim (...) sem problemas. (SIC)
 
Ednalva respondeu: “Eu to acostumando ainda, ando meio desengonçada, mas é por causa do medo mesmo. Fiquei muito tempo sem pisar, mesmo depois que minha prótese ficou pronta, eu queria continuar na cadeira, então ainda é tudo novo. Sem ela eu uso muletas, mas isso só dentro de casa quando quero ficar mais quieta. (...) foi uma perda parcial entre meu joelho e tornozelo. (...) por isso a gente optou em fazer uma prótese mais cara só que melhor, quando eu calcei a primeira vez e senti aquele vácuo se ajustando no meu coto fiquei bem mais tranquila pra fazer as fisioterapias. (...) se eu preciso andar num terreno mais irregular sempre levo minhas muletas no carro pra não correr risco (...), tem a falta de respeito dentro do banco que toda vez preciso mostrar minha perna, tirando isso é bem tranquilo, espero melhorar de uma vez e acostumar aí eu acho que não vou reclamar tanto rsrsrsrs (...) é mais ou menos isso”.
 
Fiz algumas perguntas mais íntimas pra eu mensurar a real demanda em se falar sobre amputação. As senhoritas “Maura Muty Ladda” e “Ednalva Extyrpada”, foram muito gentis e me cederam bastante informação pra eu atender a sugestão da minha amiga “querosa” num amputado, tal “querosidade” a fez me sugerir esse tema. Falando em amputado, eu não conversei apenas com mulheres amputadas, também encontrei os “brothers” mutilados, extirpados, seccionados, amputados, ou simplesmente os brothers “cotoquinhos”. Foi uma diversão conversar com meus novos amigos deficientes, aprendi muito (quero muito mais) sobre amputação. Desmistifiquei algumas coisas sem noção que eu imaginava... Contudo é muita coisa pra gente conversar num post só, por isso eu conto com sua presença aqui nas próximas postagens aonde continuaremos esse papo rico em conhecimento, curiosidade, detalhes e algumas “coisitchas” divertidas.
 
Até lá, eu reforço o pedido pra que você faça como minha amiga “querosa”, me envie sua sugestão, dúvida, crítica, reclamação... Reafirmo meu compromisso de estar disposto pra conversarmos abertamente sobre qualquer tema. Com respeito, sinceridade, discrição, temos muito que conversar. Meus emails? Claro uai, anota aí:  tulio.mendhes@tvintegracao.com.br /   maonaroda@tvintegracao.com.br. Até breve.   


Fonte: http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/blog/mao-na-roda/post/amputados-fisicamente-sim-emocionalmente-nao.html
 
 

 



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