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Autor Tópico: JOGOS SURDOLÍMPICOS: FALAR COM ESTRANGEIROS OU REFERIR-SE A ANTÓNIO COSTA  (Lida 440 vezes)

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JOGOS SURDOLÍMPICOS: FALAR COM ESTRANGEIROS OU REFERIR-SE A ANTÓNIO COSTA

Sónia Carvalho é uma das intérpretes da missão portuguesa e explica particularidades da língua gestual

Jogos Surdolímpicos: Falar com estrangeiros ou referir-se a António Costa


Num evento como os Jogos Surdolímpicos, que junta pessoas de todos os cantos do Mundo, a comunicação faz-se em diversas línguas e há que ter em conta a necessidade quase contínua de tradução entre os diversos idiomas. A juntar a isto há o facto de grande parte dos atletas comunicar através de língua gestual. Como fazer a ponte entre surdos e ouvintes?
É aqui que entra Sónia Carvalho, uma das três intérpretes que viajou para a Turquia na delegação portuguesa.
"Vim para Samsun por convite da minha colega Maria José Freire, outra intérprete, que já é mais experiente neste tipo de eventos, e que achou que seria uma boa oportunidade para mim, uma vez que já sou intérprete há mais de 25 anos e ainda não tinha tido a possibilidade de participar num evento desta natureza. Foi extraordinário", começou por contar Sónia a Record.
A ideia de ser intérprete nasceu de forma natural, até face à necessidade: "Nasci numa família de surdos. Pais surdos, primos, tios, muitas pessoas surdas na família. Convivi desde cedo com isto e, portanto, é muito natural. Um dia, o presidente da Associação Portuguesa de Surdos convidou-me porque precisava de uma funcionária na Associação. Por acaso tinha acabado o 12.º ano e não concorri à universidade, porque precisei de fazer uma pausa, e surgiu isso numa conversa banal. Há 25 anos não se sabia o que era ser intérprete, não havia a noção de tudo o que envolve este tipo de trabalho, porque o fazíamos de forma natural, com a família e amigos".
A língua gestual internacional
É comum ver atletas de diferentes países a comunicar, mas será a língua gestual igual em todo o planeta? Sónia explica-nos que não, começando por frisar que a língua – e não uma linguagem – gestual "tem toda a estrutura como uma língua oral, falada".
"As línguas não são iguais, cada país tem a sua. Depois há um sistema convencionado de gestos internacionais que são utilizados neste tipo de eventos. Poderá haver alguns gestos – aqueles que chamamos de mais icónicos – semelhantes, mas são gestos convencionados e que são mais simples de serem percebidos de forma universal. Quando nos referimos à internacional, não dizemos que é bem uma língua. São gestos internacionais, porque é uma mistura de gestos, não apenas de um país. É uma convenção em que há gestos de várias nacionalidades".
Apesar das diferenças, não é difícil aos mais experientes comunicarem com línguas gestuais estrangeiras: "Não tive formação nessa área, mas para nós é muito fácil, com o contacto, porque é natural e quem convive com língua gestual desde sempre acaba por conseguir perceber e fazer-se entender. Os nossos atletas, mesmo que não saibam os gestos internacionais, mesmo que utilizem os nossos, dentro do contexto, é completamente acessível. Não interfere na comunicação".
Complexidade exige descanso
Ser intérprete de língua gestual exige muito em termos cognitivos e não é difícil perceber porquê.
"É muito cansativo. Quando estamos a fazer uma tradução muito exaustiva, estamos a pensar em mais do que duas linguagens, porque estamos a pensar no inglês que estamos a ouvir, ou a ver os gestos internacionais, que não são a nossa base, processar para o português e depois para a língua gestual portuguesa", refere Sónia.
Assim, é impossível que um intérprete desempenhe a sua função durante longos períodos de tempo, sob pena de a comunicação começar a perder-se.
"Entre 20 a 30 minutos. Está comprovado – e falo por experiência própria – é o limite que conseguimos aguentar de forma a assegurar uma tradução fidedigna. A partir daí, o nosso cérebro começa a ter mais dificuldade em fazer o processamento. Por isso é que se vê muito o revezamento dos intérpretes com alguma frequência para permitir esse descanso. Depois varia muito das pessoas, da idade…", admite.
Para quem não está por dentro da língua gestual, pode parecer que o número de gestos possíveis é inferior ao de palavas orais que podem ser ditas. O que, em termos práticos, é verdade, ainda que haja soluções para dar a volta a esta situação.
"Pode não haver uma tradução literal para todas as palavras, mas sim de uma ideia, do conceito, de uma expressão. Como, às vezes, é o contrário: palavras muito simples em português mas para as quais temos de arranjar uma forma de contornar a informação, porque não há uma tradução direta. Não fazemos uma tradução literal, fazemos uma interpretação, ou seja, nós passamos a informação, nunca perdendo a base original, mas temos a preocupação de fazer as adaptações linguísticas e culturais que são parte da língua, sem as quais a informação não fará sentido para os surdos", afirma Sónia, que responde depois à nossa questão: e como é com os nomes das pessoas?
"Quando nos apresentamos a uma pessoa surda, primeiro soletramos o nosso nome [através de gestos] e, a seguir, apresentamos o nosso nome gestual, um nome com o qual somos ‘batizados’. Um gesto que nos caracteriza. Como os surdos funcionam de forma muito visual – o seu ponto forte são os olhos - , a forma é encontrar uma característica física na pessoa para atribuir o nome gestual. Por exemplo, um sinal, alguém que tenha um cabelo muito encaracolado, que tenha uns olhos muito azuis… Quando existem pessoas com características muito semelhantes, acrescenta-se mais qualquer coisa a esse gesto. A partir daqui, trata-se essa pessoa pelo nome gestual", esclarece a intérprete.
Moreno, costas… António Costa
Sónia Carvalho utilizou o exemplo do primeiro ministro português para explicar como foi batizado em língua gestual.
"Quando estamos a fazer uma tradução e mencionamos, por exemplo, nomes de pessoas como ministros, que não fazem parte da comunidade surda, aí sim, soletramos sempre o nome da pessoa. Mas, com o tempo, essas pessoas têm visibilidade, os surdos acabam por encontrar uma característica e batizam-nas com um nome gestual. Por exemplo, como António Costa é moreno, acabou por ser batizado dessa forma. Na língua gestual perdemos muito tempo a soletrar, e perdemos também informação. Então batizámos António Costa com o moreno [toque na face abaixo do olho] e Costa [toque nas costas]. Hoje em dia, com as redes sociais, é muito fácil partilhar estas coisas. A nível nacional é possível que reconheçam o gesto. A nível mundial, só aqueles grandes líderes é que já estão baptizados", concluiu.

Autor: Luís Miroto Simões


Fonte: Record
 

 



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