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Autor Tópico: Tiago Fortuna: “É muito desafiante viver numa sociedade com pouco espaço para a diversidade humana”  (Lida 248 vezes)

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Online Nandito

 
Tiago Fortuna: “É muito desafiante viver numa sociedade com pouco espaço para a diversidade humana”

ativismo - Pureza Fleming
27 Aug 2024 - 09:00



Fonte de imagem: greenefact.sapo.pt

Pode contar-nos um pouco sobre a sua experiência pessoal e como se envolveu no projeto Access Lab?

A Access Lab, que co-fundei, nasce de uma vontade grande de mudança e por sentir que nenhum projeto no mercado português estava a dar uma resposta como aquela em que eu acreditava, de modo a provocar mudanças efetivas, sistemáticas e com resultados a curto e longo prazo. Nasce também porque acreditarmos que, para vermos as mudanças acontecer, é necessária uma visão concertada, interseccional, agregadora tanto em termos políticos, como culturais, sociais e económicos. E surgiu também devido a uma conjuntura pessoal muito particular, de inquietação, numa altura em que estava à procura de um novo rumo profissional.

Quais são os principais desafios que enfrenta ao tentar aceder a espaços culturais, como museus, teatros ou cinemas?

A arquitetura ainda é um problema e a forma como a acessibilidade é construída na base dos espaços. Depois, também é muito desafiante viver numa sociedade tradicionalmente conservadora e assistencialista, com pouco espaço para a diversidade humana. Isto cria muito desconforto e muita discriminação, seja ela direta ou indireta. Por último, acredito que só poderemos realmente avançar quando Portugal tiver uma política de bilheteira uniforme – quando deixar de ser cobrado, por exemplo, o bilhete de acompanhante de pessoa com deficiência. Existem algumas mudanças e muitos progressos, mas precisamos de manter-nos vigilantes e a trabalhar.

Pode dar exemplos de espaços culturais que considera exemplares em termos de acessibilidade?

Sim. O Teatro Nacional D. Maria II, muitas das ações culturais da Gulbenkian, o projeto de acessibilidade da MEO Arena e do Rock in Rio.

Já teve alguma experiência particularmente negativa em termos de acessibilidade?

Tive demasiadas ao longo de toda a minha vida. A última foi este verão, num festival. Comprei dois bilhetes, cada um de 55 euros, porque o de acompanhante também era cobrado. E quando cheguei percebi que não era um lugar acessível, era no meio de uma plateia e não era elevado. Ou seja, vi todo o concerto por um ecrã. Não é aceitável, mas isto acontece demasiadas vezes e a demasiadas pessoas ainda em 2024 e apesar das muitas mudanças que já aconteceram.


Depois de algunos anos a trabalhar no stor da cultura, Tiago Fortuna co-fundou a Acess lab, uma empresa que pretende garantir o acesso de pessoas com deficiência e Surdas à cultura e ao entretenimento enquanto direito humano fundamental. (Foto: Pedro Ruela Berga / Miguel David.)

Que tipo de apoio ou infraestrutura acha que são essenciais para melhorar a acessibilidade em espaços culturais?

Consultoria especializada e com representatividade de pessoas com deficiência. São precisas equipas multidiscilplinares, que conheçam o mercado cultural mas também estratégias de inclusão e acima de tudo que sejam capazes de implementá-las. É importante também ver o que se faz a nível internacional, não precisamos de inventar a roda. A informação existe e muitas das necessidades estão mapeadas, são é precisas equipas capazes e investimento por parte do mercado em recursos especializados. A diversidade de público é uma mais valia para qualquer instituição cultural. E também é uma mais valia económica ter esta franja de público incluída.

Existem atividades culturais nas quais gostaria de participar, mas que são inacessíveis devido à falta de infraestruturas adequadas?

O exemplo que dei de um festival é, no meu entender, gritante. Existem salas de espetáculos em Lisboa que ainda não têm uma rampa, onde as pessoas ainda entram com degraus. E enquanto for cobrado bilhete de acompanhante a participação vai ser sempre mais reduzida. Se perguntarem a um número significativo de pessoas com deficiência vão perceber que as pessoas não participam mais por razões económicas. E também podem perguntar a pessoas que participaram em eventos com direito a bilhete de acompanhante, como essa política estimulou a sua participação. Depois existem os recursos de programação: a televisão e o cinema português quase não têm recursos como a língua gestual portuguesa e a audiodescrição. Se formos para o streaming vemos a mudança a acontecer na Disney ou na Netflix, com legendas para surdos e faixas de audiodescrição. Isto são apenas alguns exemplos que podem transformar os hábitos de participação e de consumo.


O projeto de acessibilidade do Rock in Rio é apontado por Tiago Fortuna como “exemplar”.

Como acha que a tecnologia pode ajudar a melhorar a acessibilidade em espaços culturais?

Em primeiro lugar é preciso comunicar e isso faz-se através de redes digitais com o conhecimento e contacto humano. Depois existem recursos que podem ser estimulados. Por exemplo, nós utilizamos tecnologia háptica, coletes vibratórios, para pessoas surdas sentirem a vibração da música. Recentemente fizemos o primeiro concerto com coletes a receber sinal 5G com a Dua Lipa e foi particularmente interessante, porque através da tecnologia conseguimos chegar à artista e promover a inclusão das pessoas surdas na cultura.

O que acha das políticas atuais em termos de acessibilidade cultural?

Temos boas políticas, mas pouco consequentes. É praticamente facultativo cumprir ou não com as políticas. Isso não devia acontecer.

Que mensagem gostaria de transmitir aos responsáveis por espaços culturais sobre a importância da acessibilidade?

Comecem a trabalhar hoje, não esperem por ninguém. Invistam na diversidade e invistam nas pessoas com deficiência, é uma franja de público tão relevante como qualquer outra. Já o fizeram com as mulheres, com as pessoas negras, com as pessoas LGBTQ. É tempo de avançar e fazer o mesmo pela deficiência.






Fonte: greenefact.sapo.pt                     Link: https://greenefact.sapo.pt/entrevista/tiago-fortuna-e-muito-desafiante-viver-numa-sociedade-com-pouco-espaco-para-a-diversidade-humana/?utm_source=SAPO_HP&utm_medium=web&utm_campaign=destaques
 

 



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