Vencer o medo
A mobilidade em cadeira de rodas não é nada fácil. Elsa Ramos começa por descrever a cidade de Tavira, onde vive. “Fizeram melhorias na renovação do espaço urbano da zona histórica mas não consigo lá chegar. Nem no edifício da câmara municipal consigo entrar”, critica.
Quando existem rampas nos passeios, prossegue, o mais provável é que sejam muito inclinadas: “Se vou sozinha, caio para trás ao subir, ou rebolo ao descer”. Para mostrar quando é difícil a mobilidade, nestas circunstâncias, há sete anos organizou um evento público: ”Um dia em cadeira de rodas”. Convidou pessoas da autarquia e outros cidadãos a sentarem-se numa cadeira de rodas, mesmo que não fossem portadores de qualquer deficiência. “Houve quem ficasse com bolhas nas mãos”, recorda.
No que diz respeito ao estacionamento automóvel, a falta de civismo é a sua principal critica. “As pessoas ditas normais abusam”, queixa-se, referindo-se à ocupação dos lugares reservados a deficientes. Por isso, quando detecta essas situações de desrespeito pela lei, faz pedagogia à sua maneira. “A estupidez não é deficiência” ou “Quero este lugar mas não quero a cadeira de rodas”. Estas são as duas mensagem que costuma deixar no vidro dos carros que encontra mal estacionados.
A forma como esta mulher tem vindo a superar as dificuldades depois do acidente está a ser objecto de estudo de dois alunos finalistas do curso de medicina da Universidade do Algarve. Continua a viver na Luz de Tavira, numa casa adaptada. “Moro no rés-do-chão com dois gatos, e os pais e o meu irmão habitam no primeiro andar”. A passagem de nível, onde o comboio quase a atirou para o outro lado da vida, já não lhe mete pavor: “Tive a ajuda de um psicólogo, venci o medo.”
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