Que as coisas mudem urgentemente, são meus votos.
Parabéns a todas!
As mulheres “continuam a ser as mais sacrificadas” com a crise e o consequente desemprego, existindo o risco de que “fiquem em casa” em vez de irem trabalhar, alertam as duas centrais sindicais portuguesas.
Trabalhar pode não compensar, dado que o dinheiro que se ganha é inferior ao que se gasta para o fazer (em transportes, alimentação, etc.), podendo, nesta altura de crise, aumentar o número de mulheres a optarem por ficar em casa, por voltarem “outra vez ao espaço familiar”, saindo do “espaço público”, reconhece Ana Paula Viseu, da UGT.
“Isto está, de facto, complicado e grave para todos, mas sem dúvida que as mulheres continuam a ser as mais sacrificadas e as piores remuneradas”, considera Odete Filipe, da CGTP, confirmando que o desemprego e a precariedade laboral estão a afetar muito as mulheres.
"A média salarial das mulheres em relação aos homens é menos 18%, equivalente a menos 183 euros" Odete Filipe, CGTP
Odete Filipe refere que “40% das mulheres ganham só até 500 euros” e no caso da indústria “ainda é pior, ganham o salário mínimo”. Em parte porque “a discriminação salarial” se mantém. “As mulheres são enquadradas nos níveis mais baixos. Isto tem influência no salário porque a média salarial das mulheres em relação aos homens é menos 18%, equivalente a menos 183 euros”, concretiza.
A acrescentar a isto, “140 mil mulheres não têm qualquer subsídio” – são desempregadas de longa duração. E depois há ainda “o alargamento do horário [de trabalho] para 10 horas e 200 semanais”, acrescenta, sublinhando que “muitas das empresas impõem os horários que querem”, não possibilitando às pessoas que possam “organizar a sua vida familiar e pessoal”.
“Ainda não sabemos muito bem o impacto” que a atual crise terá, diz Ana Paula Viseu. Antecipa porém que venha a ter um “impacto muito negativo no regresso das mulheres ao trabalho”. É preciso saber “como é que a sociedade se vai reorganizar para dar espaço às mulheres voltarem para o mercado de trabalho”, refere.
Despedimento de grávidas
Um dos problemas que UGT e CGTP têm detetado com mais frequência é o despedimento de grávidas. “Não são as mulheres que têm filhos, a sociedade tem filhos. Ela não pode ser penalizada por isso, não pode ser marginalizada”, sustenta Ana Paula Viseu, frisando que os empresários “não percebem que [a natalidade] é um bem e que a mulher não é um estorvo".
Estar grávida “praticamente é um caminho de ir para a rua”, descreve Odete Filipe. E agora, acrescenta Ana Paula Viseu, a sociedade está “a sofrer com isso”, porque “as mulheres pura e simplesmente abdicaram de ter filhos".
Feitas as contas, lamenta Odete Filipe, “não só houve um retrocesso de direitos, mas também um retrocesso de mentalidade”, já que 47% da população ativa é composta por mulheres, mas estas “trabalham cerca de mais 16 horas por dia do que os homens nas tarefas familiares”.
Esse recuo não é visível apenas nas estatísticas, “mas também a nível da própria autoestima, da própria sociedade, de as mulheres sentirem que retrocederam em todas as conquistas que fizeram”.
O desemprego não afeta apenas a independência económica das mulheres, tem também consequências na família e na sociedade em geral, realça Ana Paula Viseu. “A crise não é só perder o emprego, é transversal”, frisa.
“As mulheres vão perder competitividade, vão perder ritmo, vão estar um pouco afastadas das realidades”, antecipa, questionando o que vão fazer as empresas num cenário pós-crise com essas mulheres, que ficaram “afastadas meses e anos”.
Com a certeza de que nada será como dantes e que haverá “uma transformação grande” do mercado laboral, aponta Ana Paula Viseu, acrescentando que apesar de serem as mais atingidas pela crise, “não foram as mulheres que provocaram a crise, porque as mulheres não estão nos lugares de decisão, não estão nas organizações que definem as coisas, porque não chegam lá, não estão porque não há espaço para elas”.
Fonte: Sapo Noticias