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Autor Tópico: O Basquetebol em Cadeira de Rodas em Portugal  (Lida 1096 vezes)

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O Basquetebol em Cadeira de Rodas em Portugal
« em: 01/06/2020, 20:58 »
 
O Basquetebol em Cadeira de Rodas em Portugal

Publicado em quinta-feira, 28 de maio de 2020
 


 

Vamos ver a situação do Basquetebol e Cadeira de Rodas (BCR) em Portugal com Pedro Bártolo, atleta e responsável pela comunicação da  Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB),  Augusto Pinto, Presidente do Comité Nacional de BCR e ainda falámos com elementos da equipa da Associação Portuguesa de Deficientes (APD) de Lisboa e seus treinadores.

 

O BCR teve início em Portugal na década de 70 com a equipa de Alcoitão.

 

É uma modalidade em composta por equipas de cinco jogadores em campo, mais 7 suplentes. O jogo é composto por quatro quartos de jogos de 10 minutos cada, com as respectivas pausas. Aqui temos tudo como no basquetebol convencional, até a altura do cesto é a mesma. Existe somente uma particularidade na composição das equipas por pontos para equilíbrio das mesmas conforme o grau de incapacidade dos atletas.

 

AMMA: Como está de “saúde” o BCR neste momento em Portugal? Como tem evoluído ao longo destes últimos anos?

 

Pedro Bártolo: Penso que se pode olhar com esperança para o futuro do BCR em Portugal. Desde a integração da modalidade na FPB, na época 2015/2016, o Comité Nacional de BCR dinamizou ações de formação para treinadores e árbitros, que era – e é – uma lacuna sentida, ao passo que na área que me diz respeito, a comunicação, a frequência de produção de conteúdos tem vindo a aumentar. Tal contribui para uma maior visibilidade daquela que é considerada a modalidade rainha do desporto Paralímpico e no desejo enunciado e/ou concretizado de alguns municípios, clubes ou instituições avançarem com a criação de equipas. Na época que agora finda, surgiram a Lousavidas, de Lousada, e a AD Vagos, nome emblemático do Basquetebol feminino, na região e no país, agora com secção de BCR.

 

AMMA: Neste momento quantas equipas estão federadas?


PB: 10 equipas: APD Braga, APD Paredes, Basket Clube de Gaia, APD Leiria, APD Lisboa, GDD Alcoitão, Sporting CP-APD Sintra, Lousavidas (Lousada), AD Vagos e CD “Os Especiais” (Funchal).

 

AMMA: Nesta modalidade há vários escalões de faixas etárias, ou é praticado somente por adultos?

 

PB:Em termos de clubes, a modalidade não se encontra estratificada em termos etários ou de género. Tal deve-se à escassez de atletas, embora já seja comum nos países mais desenvolvidos, com um número superior de praticantes, a constituição de equipas sub22 e sub19. É importante realçar que, ao nível de seleções, já se verifica a divisão entre feminino e masculino, bem como a separação etária. Portugal arrancou com a sua seleção sub22 em 2018, tendo participado nos Jogos Paralímpicos Europeus da Juventude, em Pajulahti, Finlândia, em Junho de 2019.

 

AMMA: Que esforços tem feito a Federação na divulgação e desenvolvimento da modalidade?

 

PB: A cobertura noticiosa no portal e redes sociais da FPB vem aumentando de época para época, o que reflete a abertura e vontade da mesma em promover o BCR. Há uma divulgação semanal com crónicas dos campeonatos nacionais da 1ª e 2ª divisão, uma rubrica voltada para os atletas portugueses a atuar no estrangeiro, entrevistas ocasionais e regulares dos protagonistas da modalidade, reportagens, etc. Neste tempo de quarentena, o nosso foco teve de se recentrar e estamos a publicar um ciclo de artigos sobre jogadores marcantes e momentos históricos da modalidade. A par disso, a pensar nos atletas, nesta altura de confinamento e restrições à atividade desportiva, fizemos alguns treinos específicos em vídeo, mantendo muitas das rubricas referidas anteriormente. Somam-se algumas transmissões pontuais de jogos das provas oficiais na FPB TV, o nosso canal. No futuro, acredito que a convivência do Basquetebol convencional e do BCR em eventos conjuntos será uma realidade.

 

AMMA: Como funciona as regras de pontos para a constituição das equipas?

 

PB: Cada atleta é pontuado, entre 1 a 4.5, por classificadores especializados, de acordo com a sua funcionalidade na cadeira de jogo. Quanto maior a limitação, menor é a pontuação. Nas provas de clubes, o total dos cinco atletas em campo deve perfazer um máximo de 14,5, enquanto nas seleções esse valor cifra-se nos 14.0. Há depois nuances específicas como, em competições de clubes, as atletas femininas e os sub22 disporem de uma redução, determinada por cada país, de modo a encorajar a sua utilização. Acrescento ainda que em alguns casos a competição está aberta às pessoas sem deficiência, uma prática que acontece na 2ª divisão em Portugal e se encontra massificada em potências da modalidade, por exemplo no Canadá e na Grã-Bretanha. Por norma, o jogador sem deficiência tem a pontuação de 5.0.

 

AMMA: O BCR ainda é modalidade amadora em Portugal. Que passo falta dar para que se torne profissional tal como acontece na nossa vizinha Espanha?

 

PB: Falta imensa coisa. Em primeiro lugar, o desporto Paralímpico carece da visibilidade ou do estatuto enquanto espetáculo que aos poucos vai obtendo noutros países, nomeadamente Espanha. Tal acarreta dificuldades na angariação de patrocinadores e apoios sólidos que assegurem a sustentabilidade de projetos enquadrados numa ótica profissional ou semiprofissional. Além disso, a estrutura das equipas é frágil, muitas delas ligadas a associações ou instituições com um pendor mais social, e se no desporto convencional a profissionalização das modalidades de pavilhão resume-se a uma mão cheia de exemplos, no adaptado, para já isso representa uma miragem.  O perfil do atleta também terá forçosamente de se alterar. Obviamente que ao não garantirem qualquer gratificação financeira do desporto, não podem investir o tempo ideal no treino, mas a separação entre reabilitação/lazer e competição precisa de ser vincada.

 

AMMA: Ao nível da selecção como estão a correr as coisas? Têm atletas um pouco de todo o país? Como são feitos os vossos treinos?

 

PB: Como integrante e subcapitão da seleção A, posso dizer que a intensidade do trabalho se tem mantido, mesmo no cenário atual, constrangido pela pandemia. Mantemo-nos em contacto permanente com a equipa técnica, temos trabalho físico delineado especificamente para as necessidades e possibilidades de cada um, em termos de acesso a materiais, tempo e lesão, e é palpável a vontade de todos voltarem ao pavilhão. Em 2019, não concretizámos o objetivo de chegar à divisão B do BCR europeu, pois caímos na meia-final do Europeu C, realizado em Sófia, Bulgária, frente à Grécia (subiam os dois primeiros), mas o comprometimento e dedicação do grupo não esmoreceram e em 2021 só pensamos em alcançar essa subida. Quanto aos treinos, realizamos vários estágios ao longo da época e participamos em alguns torneios, à semelhança do que sucede com as seleções de qualquer modalidade. Este será talvez um dos aspetos que mais demonstra o compromisso da FPB e do CNBCR (Comité Nacional de BCR) com a modalidade, uma vez que as condições de trabalho das seleções, em frequência e qualidade, melhoraram drasticamente.

 

AMMA: Que tipo de apoios são solicitados com mais frequência pelas equipas e os seus clubes à Federação?

 

Augusto Pinto: O apoio mais evidente tem a ver com formação de enquadramento humano e apoio nas carências de material logístico.

 

AMMA: No geral esses apoios têm conseguido atender às suas necessidades?

 

AP: Dentro das possibilidades da FPB tem-se dado resposta a essas solicitações no que diz respeito à formação criando e dinamizando ciclos de formação. No que diz respeito ao material o apoio é na entrega de bolas e empréstimo de cadeiras. Este último factor é determinante para as equipas que querem iniciar-se na competição de BCR pois tem um peso significativo nos custos a suportar. A FPB em 2 anos adquiriu 10 cadeiras de desporto novas e comprou ainda 5 cadeiras usadas mas em boas condições. Esta aquisição possibilitou a criação de um "banco técnico de cadeiras" e das quais todas se encontram emprestadas a clubes. Convém realçar ainda que a arbitragem de BCR, tem também um peso significativo nos custos da competição e são suportados em mais de 60% pela FPB.

 

AMMA: Além da Federação, as equipas também têm conseguido apoios por iniciativas próprias? Quando se deslocam para os jogos, viagens que por vezes são grandes, com o equipamento, os atletas e toda equipa técnica envolvida, onde entra a Federação nos apoios?

 

AP: Este é um factor  vital para a sobrevivência dos clubes na competição ou seja proporcionar actividade desportiva a pessoas com deficiência motora. Um dos apoios mais necessários é o dos transportes e aqui as Autarquias têm tido um papel fundamental. Entendemos no entanto que os clubes de BCR terão que desenvolver uma politica de maior captação de patrocínios e nesse sentido a envolvência de todas as  instituições que têm uma forte vertente social (Misericórdias, IPSS, Institutos de Reabilitação, etc.) podem e devem ser um parceiro importante dadas as evidentes melhorias que trás a prática desportiva a estas pessoas. A FPB tem neste aspecto um papel mais que essencial no apoio financeiro à sustentação das duas seleções nacionais de BCR (seleção A e seleção de Sub 22) pois os gastos com a sustentação das mesmas seja em estágios, torneios internacionais, jogos de preparação ou mesmo competições europeias é muito elevado como se pode depreender de uma actividade que tem que ter um suporte logístico tão intenso e dispendioso.

 

AMMA: Neste contexto de Covid-19 que sugestões os atletas e as equipas vos têm feito chegar pelo facto de estarem parados das suas actividades? Tem sido complicado gerir as espectativas?

 

AP: A pandemia teve um grande impacto negativo a todos os níveis desportivos, mas em actividades de pavilhão como é o caso, ainda foi mais evidente. A acrescer ao expresso se a actividade desportiva é desenvolvida por pessoas com mobilidade reduzida é ainda mais evidente. Tem havido um esforço significativo por parte da FPB e das equipas técnicas das seleções nacionais de BCR em  proporcionar uma série de actividades individuais que tem mantido um ritmo bem elevado (tendo em conta as restrições em causa) e ainda uma constante ligação aos atletas (especial relevo) mas também a treinadores e dirigentes do BCR. Realçamos aqui as formações online agendadas e as constantes conferências online com todos os agentes desportivos .

 

 

A equipa desportiva da APD de Lisboa pertence ao grupo das mais antigas do país que remontando a 1972 e conta com as modalidades de desporto adaptado de Basquetebol e Andebol em Cadeira de Rodas, treinando no complexo desportivo do Casal Vistoso.

 

Falámos com o capitão da equipa, o Ahmat Afashokov (atleta de origem russa), o jogador Bruno Lopes, e os treinadores Teresa Xavier e o Daniel Pereira.

 



 

AMMA: Ahmat é o capitão de equipa de BCR da APD Lisboa. O que o motivou a vir praticar BCR nesta equipa? Já conhecia a modalidade no seu país de origem?

 

Ahmat Afashokov: Conheci a modalidade cá em Portugal, bem antes de começar a praticar. Comecei por procurar Andebol em Cadeira de Rodas e acabei por me interessar mais no Basquetebol. O principal motivo de escolher esta equipa inicialmente foi pela proximidade do pavilhão de treinos à minha casa, como não existem muitas equipas perto e a escolha foi fácil.

 

AMMA: Que tipo de responsabilidade tem na equipa quando estão em campo? Está alinhado a receber as instruções dos treinadores e transmitir à equipa enquanto jogam?

 

AA: Existe sempre uma tática geral e algumas jogadas, há algumas indicações a meio do jogo que são-nos transmitidas e temos de implementar em campo com a equipa. Cabe aos capitães tomar algumas decisões no momento, dependendo do contexto e do que aconteceu recentemente no jogo, como por exemplo se repararmos que há um jogador que está desgastado (fisicamente ou emocionalmente), não é preciso recebermos instruções do banco para tomar vantagem dessa situação. Cabe também aos capitães dar o exemplo para manter a compostura da equipa e dar moral aos companheiros de equipa. Tentamos não nos perder nas emoções do jogo porque assim não damos moral nenhuma ou até podemos destruir a pouca moral que temos.

 



 

AMMA: O que sente no final de cada jogo? Alegria por ter passado mais uma etapa, ou por vezes alguma tristeza por não ter alcançado algum objectivo a que se tenha proposto?

 

AA: Introspeção. Sempre temos um objetivo que poucas vezes atingimos, o que me deixa de certa forma desapontado. O que tem salvo foi a nossa evolução e é o nosso aspeto mais forte no momento. Portanto, não ficamos satisfeitos por falhar, mas valorizamos o nosso percurso, o que ajuda nos a olhar para os erros mais claramente e facilita a resolução destes.

 

AMMA: Já alguma vez pensou em desistir? Que força interior é que o levou a não fazer?

 

AA: Já pensei em pausas. Desistir nunca. A faculdade ensinou-me que quando temos essas dúvidas, nunca tomamos a decisão e continuamos com tudo até ser clara a resposta. No BCR, essas dúvidas são só temporárias, acontecem quando esqueço-me  de considerar o percurso e evolução que tivemos.

 

AMMA: Vocês são uma equipa unida. Quais são os aspectos que acha mais importantes na vossa relação de grupo?

 

AA: Todas as derrotas que partilhámos, todos os almoços juntos que tivemos, todos os momentos de balneário com uma variedade de emoções que trouxemos do campo e que  todos nós sentimos uns dos outros... Estes momentos são as principais fontes da intimidade que temos uns com os outros.

 



 

AMMA: As orientações técnicas são em geral para a equipa toda, contudo há orientações específicas para o capitão?

 

AA: Por vezes sim. Para além do "kit" básico de deveres como capitão, existem orientações para mim que por vezes são táticas (que passam de mim para a equipa), mas geralmente são de liderança. Tem sido complicado ser capitão de uma equipa em que 90% dos jogadores são mais velhos e experientes que eu, o que por vezes causa hesitações que não podem existir dentro de campo para o bem do grupo. Tenho sorte de ter bons mentores na área de liderança, o que me dá a certeza que vou conseguir evoluir essa vertente.

 

AMMA: Como capitão de equipa, o que gostava de dizer às pessoas lá em casa que tenham alguma deficiência física para os desafiar a vir experimentar o BCR?

 

AA: Desafios são importantes para o nosso crescimento como pessoas. O que nós fazemos no BCR é esquecer os nosso problemas do "mundo real" quando estamos dentro de campo e temos uma chance de fazer a diferença, o que ajuda na nossa confiança, e de falhar, o que ajuda na nossa capacidade de auto crítica, lidar com a noção de falha e resolver esse problema. Isto é válido para pessoas sem deficiência e até para pessoas que querem seguir qualquer outro desafio, não sacrificas nada. Se ganhas: dá te confiança para subires de nível; se perdes: oportunidade para melhorar.

 

Vamos falar agora com Bruno Lopes, jogador com a camisola nº 10 da equipa.

 



 
AMMA: Bruno já pratica BCR há 12 anos e também está empenhado em divulgar a modalidade nas escolas e ao público em geral. O que o fez sentar na cadeira de rodas e praticar a modalidade? Como tem sido a sua vivência nesta equipa?

 

Bruno Lopes: Já praticava desporto federado (futsal) antes do meu acidente de mota e senti necessidade de praticar novamente qualquer coisa, para retomar as minhas rotinas, sair de casa enfim ser ativo. Como sou competitivo e sempre gostei de desportos de equipa, integrar a APD Lisboa foi natural, pois é a equipa mais perto de minha casa. Como já estou na equipa há 12 anos já tive altos e baixos, já passei por muitos atletas e treinadores, mas o saldo final é positivo.

 

AMMA: Como é que conseguem colocar uma pessoa não portadora de deficiência motora numa cadeira de competição para experimentar esta modalidade, seja numa escola ou noutro local? Qual é a reacção em geral?

 

BL: Nem sempre é fácil, pois no inicio parece que a cadeira “transmite” a deficiência ao utilizador mas depois percebem que uma cadeira de competição é muito diferente de uma cadeira de rodas de dia-a-dia. Explicamos as diferenças, as semelhanças, como agarrar no aro, como virar, travar e passados uns minutos a diversão é total. Dizem muitas vezes que parece carrinhos de choque.

 

AMMA: Estas acções costumam ser sensibilizadoras?

 

BL: Ajudar a construir mentalidades é muito gratificante, algo que na minha altura quase não havia. São muito importantes estas ações, pois as pessoas com deficiência são tão válidas como as outras.

 

AMMA: O que é para si entrar em campo com a sua equipa, cumprimentar os adversários, equipa de arbitragem e começar a jogar? É um momento de concentração absoluta?

 

BL: Sim é um facto. No inicio sentia-me nervoso, agora já não. Um jogo de basket é uma maratona de 40 minutos, ou seja, é importante manter essa concentração apesar do cansaço e transmitir isso aos mais novos. Ganhar é importante, mas para isso é preciso jogar bem, com inteligência, gerir bem o tempo e os momentos do jogo para que a intensidade continue até final do jogo.

 



 

AMMA: Como é que os jogadores conseguem estar a desempenhar a sua função num jogo muito rápido em que cada segundo conta, estar a perceber a posição dos colegas de equipa e aplicar as instruções dos treinadores?

 

BL: Diria que é natural, ou seja, quem tiver perfil de atleta consegue ter raciocínio rápido e a tomada de decisão sempre correta. Contudo quando as coisas começam a correr mal, nem sempre é fácil aplicar as instruções dos treinadores, pois a emoção começa a ganhar ao raciocínio.

 

AMMA: Qual é a sua reacção quando termina um jogo quer e a sua equipa ganhe ou não? Quem está de fora consegue perceber o que vai dentro de si?

 

BL: Sou muito extrovertido, explosivo e vivo intensamente o jogo. Há certos jogos que perdemos mas jogamos bem, fico satisfeito e contente. Há outros jogos que parecemos tão apáticos, desorganizados e desanimados que só me apetece fugir. Quem está fora vê perfeitamente, pois sou o dos que mais refila em campo, pois a nossa equipa comunica muito pouco entre si.

 

AMMA: Quais os aspectos que acha mais marcantes na vossa relação como equipa num todo?

 

BL: Somos uma equipa muito heterogénea, em que os mais novos podem aprender com os mais experientes. Mas também somos pessoas como as outras, com várias personalidades e sensibilidades, mas no final do dia somos amigo do nosso amigo e temos muitos amigos também nas outras equipas.

 

AMMA: Nestes 12 anos que pratica BCR conte-nos um episódio interessante por que tenha passado.

 

BL: Recordo dois episódios com muita saudade pela sua inovação e visibilidade. O primeiro, o Torneio da Batalha, organizado pela APD Leiria feito ao ar livre mesmo ao lado do Mosteiro da Batalha, entre muitas pessoas e turistas estava montando um campo com 2 tabelas, eu praticava a modalidade há muito pouco tempo, achei aquilo magnifico fiquei deslumbrado. O segundo, Torneio em Sta Maria da Feira, organizado pela Deficiprodut, realizado ao ar livre no parque de estacionamento do antigo Feira Nova, as pessoas iam fazer compras e iam-nos ver a jogar. O empresário deu prémios de jogo a todos os atletas em dinheiro e eu gastei todo o meu prémio em produtos dessa empresa, pois sentia que deveria retribuir o bonito gesto. Foi a única vez que recebemos algum assim desse género…

 


 

 
Vamos agora conhecer a equipa técnica, os treinadores Teresa Xavier e Daniel Pereira, o seu trabalho de treino e a gestão da performance da equipa. Eles conhecem cada elemento como a palma da sua mão. Sabem quais são as suas potencialidades e os pontos fracos. Aproveitam para os treinar a utilizar da melhor forma as potencialidades e a superar os pontos fracos e a desenvolver ainda mais os pontos fortes. Essa é uma das inúmeras missões de um treinador. Vamos falar com eles, as perguntas serão as mesmas para os dois e vamos ver os pontos de vista de ambos, podem ser diferentes mas apontam na mesma direção, o sucesso da sua equipa.

 

AMMA: Como descobriu a modalidade de BCR e decidiu ser treinadora dela? Teve que frequentar formação específica para o BCR?

 

Teresa Xavier: Em Maio de 2018, a APD Lisboa fez uma apresentação no clube que eu treinava nessa data, onde treinadores, atletas e pais tiveram oportunidade de assistir a um jogo e tiveram a possibilidade de experimentar jogar basket em cadeira de rodas, sendo uma experiência muito enriquecedora para todos os participantes.

Desde essa data, mantive sempre contacto com a APD Lisboa e onde nesse mesmo ano me foi feito o convite para ir treinar a equipa deles.

Numa primeira fase não fui obrigada a frequentar o curso de BCR, apesar de ter frequentado o 1.º Clinic de BCR que se realizou no dia 6 de outubro de 2018.

A partir de 2019, todos os treinadores de Basquetebol foram obrigados a tirar um curso de BCR, que se realizou no Luso, de 13 a 15 de setembro de 2019.

 

AMMA: O facto de serem uma equipa de treinadores, é uma junção de sinergias para por em vantagem competitiva a equipa?

 

TX: Sim, porque o Daniel e eu temos experiências e vivências diferentes no Basquetebol e dessa troca de experiências e muita partilha sobre BCR acreditamos que acrescentamos valor na gestão competitiva da equipa.

 

AMMA: Qual é o maior desafio que esta equipa lhe apresenta? O que é que os jogadores necessitam mais de desenvolver para alcançarem o sucesso?

 

TX: O maior desafio é a diferença de idades, que vai desde 18 aos 72 anos, onde é difícil ter a mesma competitividade quer em treino como em tempo de utilização em competição.

Os atletas tem que ter uma boa técnica de cadeira, boa capacidade física e uma excelente comunicação entre eles..

 



 

AMMA: Quando treina estes atletas sonha vê-los chegar ao fim do campeonato e ganhar? É essa a sua visão ou tem tudo em aberto até ao fim e que se chegue ao melhor que se conseguir?

 

TX: O meu grande sonho é isso mesmo, conseguir chegar ao grande patamar que é ser campeão nacional.

Claro que nesta fase o que eu mais quero é que eles cresçam como atletas e que aprendam o máximo para conseguir chegar ao grande desafio que é ganhar.

 

AMMA: O facto de serem pessoas portadoras de deficiência o treino é mais exigente? Cada atleta tem potencialidades e pontos fracos relativamente ao outro, o que tem que se trabalhar em equipa?

 

TX: No meu ponto de vista é muito exigente porque o desporto adaptado é intenso, é jogado com fair play e tem um grau de dificuldade elevado.

Tem que se trabalhar esses mesmos pontos fracos e fortes de cada um, para que o coletivo possa ser melhor. Na preparação dos treinos temos de ter em conta a deficiência de cada atleta para o trabalho individual de cada um necessita.

 

AMMA: Estes jogos são de movimentos muito rápidos, em poucos segundos se está no cesto da equipa adversária. Como é que um treinador consegue seguir a equipa, tomar decisões rápidas e a equipa conseguir interiorizar e aplicar? É um pouco de jogo de nervos?

 

TX: Todos estes itens referidos na pergunta são alguns dos pontos apaixonantes deste desporto do ponto de vista do treinador, ou seja, é um jogo muito rápido que requer que estejamos muito atentos, temos que perceber e ler o adversário, tomar decisões em segundos e gerir a nossa equipa em função dos adversários mas fundamentalmente em relação ao que a nossa equipa consegue fazer, respeitando sempre a classificação de cada jogador.

 

AMMA: Quando decide fazer uma substituição em que parâmetros se baseia? Cansaço do atleta, desempenho, por conhecer as suas limitações?

 

TX: Desde a constituição da equipa inicial, temos de ter em consideração o máximo de pontos que a classificação de cada jogador aporta, e esta classificação condiciona todo o processo de substituições ao longo do jogo, e temos sempre de ter isto em conta quando sentimos cansaço nos atletas, algum desempenho abaixo do habitual, ou seja, ao contrário do Basquete convencional, no BCR temos que adicionar esta condicionante, que torna a nossa função de treinador mais desafiante porque não é suficiente olhar a cansaço ou desempenho.

 

AMMA: O que gostava que acontecesse no BCR em Portugal? Sonha que venha a ser uma modalidade profissional como em outros países ou ainda estamos muito longe disso?

 

TX: Como ponto de partida, gostava que o BCR tivesse uma divulgação global e nacional, como por exemplo, campanhas de divulgação genéricas sobre a modalidade e específicas, nomeadamente, nas áreas de saúde onde os médicos e fisioterapeutas deveriam ser os primeiros divulgadores em todas as pessoas que nascessem ou ficassem com alguma deficiência motora. Adicionalmente a isso, era muito importante que houvesse maior investimento na modalidade, de forma a que deixassem de haver tantas dificuldades na compra de cadeiras para a competição, de campos para treino, horários mais ajustados para treinos e como complemento maior número de equipas e atletas.

Quando não cumprirmos os pressupostos acima referidos, não me parece que possamos ter capacidade financeira nos clubes para que os atletas se tornem profissionais, enquanto a televisão não passar jogos de BCR, enquanto os pavilhões tiverem 5 a 10 pessoas a assistir aos jogos, o crescimento da modalidade não permitirá o profissionalismo e estaremos cada vez mais longe de outros países onde o BCR é uma prioridade. Mas claro que era um grande sonho ver o BCR como modalidade profissional.

Vamos conhecer o ponto de vista do treinador adjunto Daniel Pereira, respondendo às mesmas questões que a treinadora Teresa Xavier.

 

AMMA: Como descobriu a modalidade de BCR e decidiu ser treinador dela? Teve que frequentar formação específica para o BCR?

 

Daniel Pereira: A descoberta do BCR surge através de uma demostração que a APD Lisboa foi fazer a escola do meu filho. A decisão de avançar para treinador aparece em 2015 como adjunto do António Vilarinho. Em 2019 iniciei a formação de treinador de Basquetebol nível 1 e fiz uma acção de formação de BCR que me habilita a poder ser treinador de BCR.

 

AMMA: O facto de serem uma equipa de treinadores, é uma junção de sinergias para por em vantagem competitiva a equipa?

 

DP: É muito complicado uma pessoa sozinha conseguir estar atento a tudo o que envolve uma equipa de BCR e dado esse facto surgio o meu convite à coach Teresa para se juntar a esta equipa. É uma vantagem porque controlamos mais aspectos, vimos mais pormenores e podemos decidir melhor.

 

AMMA: Qual é o maior desafio que esta equipa lhe apresenta? O que é que os jogadores necessitam mais de desenvolver para alcançarem o sucesso?

 

DP: O maior desafio será a conjunção das varias faixas etárias que temos que vão desde os 18 anos até aos 74 anos e conseguir que todos possam ter o seu espaço e oportunidades. As bases ou no termo certo os fundamentos básicos, espirito competitivo e trabalhar muito dentro e fora do campo (ginásio).

 

AMMA: Quando treina estes atletas sonha vê-los chegar ao fim do campeonato e ganhar? É essa a sua visão ou tem tudo em aberto até ao fim e que se chegue ao melhor que se conseguir?

 

DP: Acima de tudo temos que ser realistas perceber a equipa que temos e definir os objetivos reais e plausíveis de alcançar e depois fornecer-lhes as ferramentas para que possam ser vencedores e aqui vencer pode ser ganhar um jogo, ser chamado aos trabalhos da selecção ou simplesmente passar o dia em viagem na companhia da sua segunda família se tivermos em conta que estão aqui atletas que já se conhecem há 30 anos.

 

AMMA: O facto de serem pessoas portadoras de deficiência o treino é mais exigente? Cada atleta tem potencialidades e pontos fracos relativamente ao outro, o que tem que se trabalhar em equipa?

 

DP: Isso mesmo, trabalho de equipa que envolve cada atleta conhecer muito bem o seu colega de equipa, e respeitá-lo como atleta porque no momento de fazer por exemplo um passe saber quem está em jogo naquele momento e como é que tenho que colocar a bola porque o mesmo passe que serve para o Manuel já não serve para o Joaquim e aqui todos são necessários para poderem jogar.

 

AMMA: Estes jogos são de movimentos muito rápidos, em poucos segundos se está no cesto da equipa adversária. Como é que um treinador consegue seguir a equipa, tomar decisões rápidas e a equipa conseguir interiorizar e aplicar? É um pouco de jogo de nervos?

 

DP: Primeiro jogas como treinas. Se treinas forte e agressivo, no jogo tem que ser igual depois temos o trabalho de scouting sobre a equipa adversária e delineamos os objetivos que temos para esse jogo com objetivos coletivos ou individuais e no jogo vamos acompanhando se está a decorrer como foi previsto ou não.

 

AMMA: Quando decide fazer uma substituição em que parâmetros se baseia? Cansaço do atleta, desempenho, por conhecer as suas limitações?

 

DP: Depende de vários factores no momento do jogo: se já estava programado, cansaço, dar uma palavra ou uma indicação.

 

AMMA: O que gostava que acontecesse no BCR em Portugal? Sonha que venha a ser uma modalidade profissional como em outros países ou ainda estamos muito longe disso?

 

DP: O que eu gostava é que olhassem para esta modalidade e para estes atletas com o respeito que merecem e pudessem ter acesso as mesmas oportunidades . Eu não gosto de fazer previsões com o que não depende só de mim porque da minha parte faço o que estiver ao meu alcance ou melhor, com o que me for disponível para elevar o BCR para o nível acima e já provamos que é possível com melhores condições e mais trabalho.

 

Agora conhecemos um pouco melhor o Basquetebol em Cadeira de Rodas, tendo conversado com dois responsáveis da modalidade na Federação, uma equipa na pessoa do capitão, um jogador e a sua equipa técnica.

 

Esta modalidade ainda não é muito conhecida, embora haja muito trabalho feito na divulgação pela parte da Federação, assim como em muitos outros desportos em Portugal, mas cativa pela beleza da rapidez dos movimentos, as técnicas que os jogadores utilizam para avançar ou mesmo bloquear os adversários, as quedas aparatosas mas o próprio atleta repõe a sua cadeira e logo volta ao jogo. Poucos segundos separam os dois cestos. A técnica de dominar uma cadeira de rodas que para além dos movimentos habituais ainda tem um extra, a rotação sobre ela própria, para proporcionar a utilização de mais técnicas de jogo.

 

A APD de Lisboa tem feito campanhas de divulgação em escolas e outros complexos desportivos  proporcionando pessoas sem serem portadoras de deficiência a experimentar a modalidade e de facto tem sido bem aceite e regala os olhos dos que veem como se pratica.

 

Também há relatos de que pessoas que sem serem portadoras de deficiência treinam BCR para desenvolver determinadas capacidades para modalidades que praticam com regularidade, não podendo participar em jogos da primeira divisão, contudo já seja possível entrar em campo nas partidas da segunda divisão.

 

A APD de Lisboa treina no Pavilhão Casal Vistoso, participa nas competições nacionais com as outras equipas e ainda em alguns torneios ibéricos, decorram eles tanto em Portugal como em Espanha.

 

Siga as actividades destas equipas individualmente pelas redes sociais e mesmo o calendário da Federação Portuguesa de Basquetebol com o calendário dos jogos quando a actividade desportiva voltar a ser praticada e confira por si próprio um jogo.

 

Fica lançado o convite.

 

Texto e Fotos: Pedro MF Mestre

 
 

 



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