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Autor Tópico: Dia Mundial da Audição: Avanços tecnológicos e científicos para a inclusão das pessoas com deficiênc  (Lida 452 vezes)

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Offline Sardinha

 
Dia Mundial da Audição: Avanços tecnológicos e científicos para a inclusão das pessoas com deficiência auditiva


Artigo de opinião de Ricardo Miranda, presidente e sócio fundador da Associação OUVIR, e de Helena Caria, sócia honorária da Associação OUVIR, relativamente ao Dia Mundial da Audição.
Dia Mundial da Audição: Avanços tecnológicos e científicos para a inclusão das pessoas com deficiência auditiva



No dia 3 de março, quando o mundo celebra o Dia Mundial da Audição, importa reconhecer não apenas a importância desse sentido fundamental, mas também a atenção especial às necessidades das pessoas com deficiência auditiva. É preciso reconhecer o poder transformador das novas tecnologias de apoio, reabilitação, assistência e acessibilidade e todas as inovações que estão a revolucionar a vida das pessoas com deficiência auditiva, permitindo quebrar barreiras para promover uma inclusão verdadeira.

As tecnologias assistivas que estão disponíveis atualmente para pessoas com deficiência auditiva têm tido um grande avanço. Desde aparelhos auditivos até implantes cocleares e de outro tipo, estas tecnologias têm transformado a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, permitindo que possam ouvir de uma forma que antes seria inimaginável. Para além disso, existem aplicações (software) e dispositivos que auxiliam na comunicação, como legendas em tempo real e sistemas de alerta vibratório (de maior complexidade e melhor percepção), entre outras.

Avanços tecnológicos na reabilitação auditiva
As áreas da reabilitação auditiva têm evoluído de forma notável nos últimos anos. Os aparelhos auditivos são mais sofisticados e de dimensão cada vez mais pequena ou mais leves (devido aos progressos na miniaturização e da microelectrónica), com recursos como supressão de ruído, ligação por bluetooth (com smartphones ou sistema de difusão por Auracast) e ajustes automáticos adaptativos (por inteligência artificial), que proporcionam uma experiência auditiva mais personalizada e confortável. Também os implantes cocleares evoluíram significativamente, permitindo que pessoas com perda auditiva grave ou profunda recuperem parcial ou totalmente a audição, integrando-se numa comunidade oral.


O avanço dos aparelhos auditivos recarregáveis permitiu que os seus utilizadores desfrutassem de maior comodidade e autonomia, eliminando a necessidade de troca frequente de baterias. Num estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, foi demonstrado que indivíduos que utilizaram implantes cocleares experimentaram melhorias significativas na qualidade de vida e na capacidade de comunicação, destacando o impacto positivo desta tecnologia na reabilitação auditiva.

Tecnologias assistivas para comunicação e acessibilidade:
A inteligência artificial desempenha um papel fundamental no avanço da tecnologia de deteção de idioma falado, possuindo complexos algoritmos e modelos de aprendizagem automática. Assim, é possível contar com sistemas que reconhecem automaticamente o idioma e que realizam a transcrição e tradução para qualquer outra língua, em tempo real e com uma precisão igual ou superior a 95% (mesmo em português de Portugal, dependendo da pronúncia ou do sotaque). Para além disso, a inteligência artificial também pode ser aplicada no ajuste automático dos aparelhos auditivos, adaptando-se aos diferentes ambientes sonoros para proporcionar uma experiência auditiva mais personalizada e confortável, evitando que potenciais fontes de ruído possam limitar a perceção. É realmente incrível como a tecnologia está a transformar a forma como lidamos com a comunicação oral e com a audição.

Há hoje aplicações de software para dispositivos (p.ex. óculos) que utilizam inteligência artificial para transcrever automaticamente o discurso oral em tempo real ou até exibir legendas em dispositivos móveis. Isto torna a comunicação mais acessível para pessoas com deficiência auditiva em reuniões de trabalho, aulas e outros ambientes que exigem rapidez na compreensão da mensagem ouvida.


Outras tecnologias
Não podemos esconder que, atualmente, é possível colocar um dispositivo eletrónico junto ao ouvido, que emite ruído branco de modo a limitar os efeitos dos acufenos ou zumbidos (tinnitus) mesmo para quem tem uma boa qualidade auditiva mas vive este problema. Este dispositivo permite uma terapia que, ao fim de um determinado tempo, pode ter efeitos retroativos ou de retrocesso do problema, o que é algo extraordinário.

Estudos vários, como por exemplo o publicado no ‘Journal of the American Medical Association‘ (JAMA) mostram que a terapia de ruído branco pode ser eficaz no tratamento do zumbido também em pessoas com perda auditiva, proporcionando alívio dos sintomas e melhorando a qualidade de vida, destacando-se o potencial destas tecnologias para fornecer tratamentos não invasivos e eficazes para pessoas com zumbido.

Terapia genética
As causas da perda auditiva são variadas, tendo particular relevância as causas genéticas. Mais de 50% dos casos de deficiência auditiva congénita em países desenvolvidos são hereditários, e destes, a deficiência auditiva isolada ou não sindrómica corresponde a cerca de 70% dos casos, sendo quase exclusivamente associada a mutações num único gene e de caráter autossómico (não associado ao cromossoma X ou Y) e recessiva.

Nos últimos anos verificaram-se avanços significativos na compreensão dos mecanismos genéticos subjacentes à perda auditiva e surdez, bem como no desenvolvimento de tecnologias para rastreio e diagnóstico genético. Estes avanços na área da genética abrem possibilidades à terapia génica, um tratamento onde é possível introduzir no ouvido uma cópia correta do gene que tem a mutação. De facto, há resultados particularmente promissores para o tratamento de surdez DFNB9 associada ao gene OTOF e para o gene GJB2, havendo diversos ensaios clínicos em curso.

continue a lêr  https://www.sapo.pt/noticias/saude/dia-mundial-da-audicao-avancos-tecnologicos-e_65e43c6a21d3364ada9ab9f4



Fonte: Sapo

 
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Offline Sardinha

 
Existem 34 milhões de crianças com algum tipo de perda auditiva em todo o mundo. Porque são tantas e os sinais a que importa estar atento


Getty Images
No Dia Mundial da Audição, o audiologista João Ferrão explica porque é que é tão importante estarmos atentos a mudanças de comportamentos nos mais novos
Um estudo de 2018, publicado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, concluiu que 1,6 milhões de portugueses com mais de 25 anos referem ter dificuldades em ouvir, o que equivale a uma percentagem de 23,7%. Ainda de acordo com a mesma investigação, cerca de 400 mil pessoas com menos de 45 anos afirmou ter dificuldades auditivas.


Mas porque é que há tantas pessoas mais novas a sofrerem de perda auditiva? Em entrevista à VISÃO, João Ferrão, audiologista, explica que esta condição deve-se a causas como, por exemplo, “o não tratamento de infeções do ouvido na infância e a exposição regular e contínua a sons fortes, nomeadamente o uso descontrolado de estímulos sonoros” durante as horas de lazer, com música ou sons de videojogos demasiado altos. “Também a mudança de paradigma laboral, com o aumento do teletrabalho e reuniões online, merece alguma atenção e sensibilização”, acrescenta o especialista.

No que diz respeito às crianças, dados da Associação Portuguesa de Audiologistas (APtA) demonstram que uma em cada mil nasce com perda auditiva profunda e, se for considerado o critério da OMS de 35dB (decibéis) como valor de referência para uma boa audição, as estatísticas indicam que dos 430 milhões de pessoas com perda auditiva incapacitante e que requerem reabilitação auditiva em todo o mundo, 34 milhões são crianças.


“Felizmente”, diz Ferrão, “graças à implementação do Rastreio Audito Universal (RANU) em quase todos os hospitais e maternidades portuguesas, é possível identificar estas crianças e acompanhá-las desde os primeiros dias de vida”.

Este rastreio inicial pode fazer com que se previna, mais tarde, uma situação que tem grande impacto na qualidade de vida das pessoas, dependendo do nível de dificuldade em ouvir, mas também das suas caraterísticas individuais, mesmo “em termos familiares, sociais, profissionais e emocionais”, esclarece o especialista.

A perda auditiva pode ter vários níveis, desde perdas ligeiras (em que começa a haver dificuldades de comunicação em ambientes mais ruidosos) a perdas profundas (em que já não há capacidade de comunicação sem ajuda, uma vez que só se conseguem ouvir sons muito altos como uma bateria, um camião a passar, etc.). Algumas perdas auditivas são reversíveis (de forma total ou parcial após tratamento ou intervenção) e outras irreversíveis.

Diagnóstico atempado é essencial
Segundo João Ferrão, independentemente da faixa etária do doente, é fundamental que os cuidadores e familiares estejam atentos a todos os sinais relevantes. “Nas crianças, é importante estar atento a mudanças de comportamento, em especial se falar mais alto ou colocar a televisão mais alta”, explica o audiologista. “Em caso de dúvida, o ideal é consultar um médico otorrinolaringologista. Importa lembrar que nem todas as infeções têm dor associada, pelo que a atenção ao comportamento é fundamental”, acrescenta ainda.

Ferrão diz também que é essencial a realização de um rastreio auditivo antes da entrada para a escola, “tal como previsto na lei”, já que, além de outros problemas, a perda auditiva pode dificultar a aprendizagem.

E nos adultos?
“É fundamental a autoanálise”, garante João Ferrão, ou seja, conseguir identificar os sinais de alerta como alterações de sensação auditiva, zumbidos e dificuldades em ouvir ou compreender. “Os familiares têm um papel crucial para ajudar a detetar alterações de comportamento auditivo e relacional, especialmente a partir dos 65 anos, idade em que a probabilidade de ter perda auditiva aumenta significativamente. Aos 70 anos há uma probabilidade de cerca de 60% de ter algum tipo de perda auditiva, aos 85 anos a probabilidade é superior a 80%”, refere.

Este é o tipo mais comum de perda auditiva, em que o processo acontece por envelhecimento e se carateriza por uma diminuição lenta e silenciosa das capacidades auditivas, afetando em primeiro lugar os sons mais agudos, responsáveis por nos darem o detalhe das palavras. Apenas numa fase mais avançada os sons mais graves (responsáveis pela sonoridade das palavras) são “afetados”. “Isto faz com que a maioria das pessoas identifique como primeira queixa o ouvir mas não perceber”, diz João Ferrão.

É preciso, também, estar alerta em relação a determinados problemas que “não associamos à perda auditiva, ou nem nos apercebemos que estão a acontecer” e podem derivar precisamente do esforço auditivo, como o declínio cognitivo, o aumento do stress, o isolamento social ou mesmo a solidão e a depressão. De acordo com João Ferrão, esta é a situação mais “perigosa”, já que afeta outras funções e tem um risco de diagnóstico e tratamento tardios, o que pode comprometer a reabilitação auditiva.

“Os rastreios anuais e as consultas regulares no médico otorrinolaringologista são a melhor forma de assegurar um diagnóstico precoce e um melhor aconselhamento para saber viver com perda auditiva”, esclarece o médico.

Mas também existem alguns cuidados diários, sendo adotados, podem ajudar a prevenir esta condição, e que passam “essencialmente” por “ter mais atenção à exposição prolongada a sons intensos”. Também é importante, afirma o especialista, “aceitar a sugestões dos dispositivos que têm controlo de intensidade e usar proteção auditiva em concertos e no trabalho de forma regular e de acordo com o aconselhado”.

“Estar atento a alterações no nosso comportamento auditivo, e também de quem nos rodeia para poder intervir precocemente, principalmente nas crianças e pessoas mais velhas, fazer uma boa higiene auditiva, evitando o uso de cotonetes que podem criar uma maior acumulação de cera e provocar lesões no canal auditivo e usar protetores de natação” sempre que for aconselhado são outras medidas fundamentais para se poder prevenir ou, pelo menos, adiar este problema, refere ainda o audiologista.




Visão saude


 

Offline Sardinha

 
É difícil aceitar a perda da audição. “Todos envelhecemos, uns melhor do que outros”
02 mar, 2024 - 09:00


É difícil aceitar a perda da audição. “Todos envelhecemos, uns melhor do que outros” Foto: Catarina Magalhães
Com o tempo, não são só os cabelos brancos e a pele enrugada que aparecem. Ouvir mal também pode integrar a lista de maleitas.

"Vive-se um pouco mal com as idades”, garante à Renascença a docente da Faculdade de Psicologia e Ciências para a Educação da Universidade do Porto Raquel Barbosa.
A dita sabedoria angariada com a vida varre-se quando se associa a “velhice”, confirma a especialista. “Uns lidam muito bem com isso, outros menos."



Envelhecer é “tudo aquilo que é mau e declínio, doença e dependência”, diz a psicóloga para reforçar que esta fusão de conceitos só aumenta o estigma à idade.

“Todos envelhecemos, uns melhor do que outros, mas há este estereótipo de tudo o que é ouvir mal, ver mal, caminhar mal ou estar mais doente... são os mais velhos”, afirma Raquel Barbosa. Nestas situações, para a docente, há duas opções: ou se aceita com vida e convive-se com a perda ou se volta as costas e é-se submisso à privação.

“Nada é fácil na vida e, quando se chega a uma certa idade, a pessoa fica mais triste." Teresa Pinto dos Santos, 87, começa mais um dia com os primeiros passos da sua caminhada matinal, mas começa também mais um dia com tonturas e desequilíbrios. "Sinto-me ourada, hoje... É o ouvido e os cristais. Tudo ajuda e já tenho tido muitas quedas”, entristece.

Teresa está a tentar aprender a viver com “este problema do ouvir mal” há mais de 20 anos, sem contar ainda com a paralisia que tem no olho direito e a faz “ver muito poucochinho." Mas depressa desfaz-se de possíveis lamentações e consolos, porque, afinal, “há pessoas que felizmente têm a audição e até vistinha boa."

“Ataca-me um pouco a cabeça”, mas lá anda “bem doente” e vai se desenrascando. “Sou muito aberta no falar e explico-me muito bem”, diz. E não espera menos dos outros: que se amanhem.


A técnica é simples. “As pessoas têm de começar a falar mais alto. Se me disserem 'Teresinha, não ouvi o que você disse', eu explico outra vez e está tudo bem”, conta.

Não há outro remédio para a “folga de audição" de Teresa. Mas, para António Almeida, já lhe basta a sua mulher a falar alto. “Eu já tenho dito a ela: 'não reparas que eu já pus as próteses auditivas, fala mais baixo!'”, desabafa o antigo serralheiro, de 79 anos. Os ruídos com serras e motosserras deram-lhe cabo dos ouvidos, explica.

“Quando vamos almoçar fora ou vamos aqui ou acolá, eu só digo "fala baixo", e as pessoas até ficam a olhar para a gente”, ri-se. “Deus me livre! Passo um mau bocado."

Com os amigos do café e dos jogos de sueca também há mal-entendidos e zanga-se, de vez em quando. “Mas que culpa tenho eu de ouvir mal?”, confronta-os, "Isto que me aconteceu a mim, devia de vos acontecer a vós."

Pode não entender à primeira ou à segunda, mas António está saturado com os “exageros”. Raquel Barbosa confirma que estes “comportamentos automáticos” de falar mais alto quando têm uma pessoa mais velha à frente ou ao lado pode ser mal vista e entristecer os doentes. Tal como se balbucia para os bebés, “sentem uma certa infantilização".

“Às vezes, estou mortinho para sair das conversas." Ainda assim, António tenta adaptar-se e aprender a fazer o luto, mas reconhece que não é fácil acartar com a situação. “Eu tenho um grande desgosto, mas o que é que hei-de fazer? Não admito é que levem a mal, eu aí fico tolo."

“A surdez vai-nos provocar algum isolamento, a solidão e a diminuição da autoestima”, acrescenta o audiologista Jorge Humberto Martins.

A perda auditiva não se resume à compreensão da informação, mas "é essencialmente um transporte de um conjunto de informações que vão trabalhar às partes mais finas do nosso cérebro: as nossas emoções", completa o terapeuta da fala Pedro Brás Silva.

"Só queria ouvir tal e qual aos meus 20 anos"
Mesmo que se esconda nos recantos, atrás das grandes confusões e conversas, António recusa-se a não aproveitar a vida que lhe resta e vai soltando gargalhadas enquanto se lembra destes episódios.

“Quem brinca consigo mesmo tem este processo facilitado”, afirma a professora Raquel Barbosa. Ir atrás do relógio não dá bons resultados e é melhor, aconselha, encarar o que se ainda tem, com a atitude.

“Não se revêem minimamente naquele estereótipo que os sustenta. Há recursos para isso e ainda bem. Temos as bengalas, temos as cadeiras, temos os aparelhos auditivos”, reforça a docente de Psicologia. “A idade é uma categoria vazia”, diz, relembrando que “os mais velhos não são todos infelizes e deprimidos."

Para a especialista, “a curva da felicidade é uma curva em U." Ou seja, quando se tem projetos de parentalidade, preocupações com o trabalho e pressões das expectativas sociais, estes momentos podem passar ao lado. E já com uma certa idade sentem-se livres. “Já não sou aquilo que a sociedade, os meus filhos e a minha família queria. Agora sou quem sempre quis ser."

No entanto, há quem viva acorrentado ao passado. "Chegam-me ao consultório a dizer 'eu só queria continuar a ouvir bem e ter na minha vida as mesmas pessoas e coisas, tal e qual como quando tinha os meus 20 anos'”, partilha Raquel Barbosa. Esta expectativa inflexível à mudança tem, por isso mesmo, impacto em termos emocionais e psicológicos.


Já lá vão quase 30 anos que António aparelha o ouvido e não foi há muito tempo que deixou de sentir o estigma. “Se calhar, perdeu-se a vergonha, mas, quando corto o cabelo, até deixo as pontas crescer um bocadinho." Não se quer sujeitar a que alguém pense: “Olha, aquele é mouco!”, diz. Até nos consultórios os doentes não escondem essa preocupação.

“Um doente que precisa de usar aparelho auditivo e é capaz de ter óculos com as lentes muito grossas diz-me logo: 'Ó, doutor, não quero usar porque se vê!'”, confirma o otorrinolaringologista Pedro Escada.

Venda de emoções
Coladas às televisões nos programas da manhã e da tarde, as pessoas mais velhas tornam-se amigas das pessoas que vêem nos ecrãs e os reclames destes dispositivos médicos, de meia em meia hora (ou menos), também são protagonizados por estes apresentadores.

“É uma figura querida, não é? É apresentada uma solução rápida e barata que alguém em que eu confio também usa”, declara Raquel Barbosa, acrescentando que estes apresentadores da confiança do público tornam-se “influencers das pessoas mais velhas." Estes produtos publicitados fazem um jogo, segundo a docente de Psicologia, para entrar no ar nos programas que esta faixa etária lidera audiências.

“A minha vida mudou”, “estou muito melhor”, “agora, consigo conviver com os meus netos”. Ao venderem qualidade de vida, este “discurso sorridente” é, para Raquel, uma “venda de emoções". O técnico de audiologia Jorge Humberto Martins tem a mesma ideia: “Usam figura de pessoas sobejamente conhecidas com programas com muita audiência."

Pelo Jardim do Marquês, no Porto, há quem se esquive a alongar sobre este assunto, a pensar que se quer vender estes aparelhos. Mas quem dá um ou dois minutos também mostra agrado a estas publicidades. “Acho que é positivo”, acredita Maria da Graça Pinto, 74, e também Ana Maria Cordeiro, 76, se bem que nunca compraram estes dispositivos médicos.

“Se valer a pena... Pelo menos o Júlio Isidro faz uma grande publicidade a isso e eu não o tenho por mentiroso”, remata Maria Silva, 78.

Não se sabe o sucesso destes anúncios, mas é certo que já são uma tradição nos intervalos dos canais generalistas. "Para muitos, a única opção é aquilo que veem na televisão, porque nem procuram ajuda", conclui Raquel Barbosa.


“Com a idade, as pessoas têm valores diferentes e isto é difícil de aceitar”, reconhece a docente de Psicologia da Universidade do Porto, Raquel Barbosa. Foto: Catarina Magalhães
No entanto, há casos alinhavados longe das publicidades. A mãe, de 90 anos, de Fernando Teixeira, 57, proprietário de uma retrosaria em Vila Nova de Gaia, resgatou-se a si mesma. Não se deixou levar em descuidos nem adiou a decisão: endereçou a deficiência auditiva à família, logo aos primeiros sinais.

“Agora, é como ela quer. Quando vamos sair para qualquer lado, gosta de usar aparelho”, explica Fernando. Assim que não lhe interessa, põe-no em cima da prateleira. “É um bebé", ri-se, “mas quando esteve aqui o Papa ela adorou porque ouviu tudo."

Ao contrário deste exemplo, Raquel Barbosa avisa que são muitos os avisos ignorados pelas famílias. A docente afirma que se deve perguntar e estar atento a quaisquer dificuldades, já que o familiar pode estar a disfarçar a perda auditiva por estar distraído. “Quem está mais atento vai perceber o esforço, a chegar-se mais com um ouvido do que com o outro ou tentar ler os lábios", refere.

É como a sociedade estivesse mal-habituada, porque, “ao longo da vida, tudo é uma questão de tempo." Empurram-se os problemas e tapam-se os olhos, porque mais tarde ou mais cedo vão estar resolvidos. A professora indica que é preciso aprender a “antecipar a velhice”.

Tal como se prepara a reforma, não se deve desvalorizar e negligenciar possíveis alertas tratáveis, visto que “não se deixa de ouvir de um dia para o outro." “Com a idade, as pessoas têm valores diferentes e isto é difícil de aceitar”, reprova Raquel Barbosa.

“Se for alguém mais novo, 'vamos logo ver o que é isso' ou 'se calhar tem outra causa qualquer'”. Procura-se logo investigar e saber o mais depressa possível a maleita. Parar, olhar e ouvir deve aplicar-se, no entender da docente, a todos. “As pessoas estão muito mais desatentas e insensíveis aos mais velhos."

"Não vou incomodar...”
Conformada, Teresa digere este problema sozinha. Esconde-o. Não porque tenha vergonha ou se sinta inútil na sociedade, mas por não querer ser um peso para a família. Imaginar a despesa que a compra de um dispositivo médico poderia trazer aos familiares preocupa-a.

“Um médico por aqui queria meter-me um aparelho, mas tinha de entrar com cinquenta euros e outros no fim do mês”, partilha. “Deu-me a ideia de que, como eu tinha filhos, podia: 'Pois é, senhor doutor, mas os meus filhos têm a vida deles e têm os seus compromissos'. Eu, como mãe, não lhes vou estar a sacrificar. 2.050 euros? Não quis. Desisti."

Decidiu, então, inscrever-se, há quatro meses, no hospital para ser avaliada e receber, em princípio, os dispositivos médicos mais indicados. Mas porque não quis pedir mais cedo? “Ó, filhinha, porque nunca ninguém quis cuidar disso”, lamenta. Sente que a sua audição foi ignorada.

A nora bem lhe deu um amplificador auditivo - equipamento sem finalidade médica -, mas “para aquilo não vale a pena”. Descontente, Teresa até sente que "aborrece a própria família", porque perde o fio à meada das conversas. “Tinha uma audição muito apurada, eu consolava-me, mas tudo tem de passar."


"Eu, como mãe, não lhes vou estar a sacrificar". Teresa Pinto dos Santos prefere esconder as dificuldades em ouvir para não atrapalhar a vida dos filhos. Foto: Catarina Magalhães

“Se ficar aqui para um canto, se calhar, é melhor, porque não vou incomodar” e “a minha família já tem tantas dificuldades, vou eu agora dizer que vou precisar?” são, aos olhos da docente de Psicologia Raquel Barbosa, as maiores questões deste problema de saúde. E, por isso, já estão predispostos a esperar por irremediáveis melhoras, porque, afinal, “pode ser que isto passe".

“Até verbalizam: 'estou aqui e estou à espera da morte' e 'só vou andar aqui mais uns anos e não vou estar a chatear ninguém'”, conta Raquel, com alguma amargura. Não vale o investimento nem as preocupações.

“Não vale a pena, para quê? Estes já me custaram 1.400 euros e eu ouço bem pertinho”. Maria Fernanda Salgado, 83, é o retrato disto mesmo. Era bancária em Luanda e, no cá e lá, uma viagem aos quarenta correu-lhe pelo torto. “Apanhei um temporal, com muitos poços de ar, e quando cheguei a Angola estava com os ouvidos entupidos."

Sem médicos no “mato”, aplicaram-lhe “uma pomadinha” nos ouvidos. Deram-lhe como sarada. Com 60 anos, fez quimioterapia. “Piorei. Agora, estou a fazer outra vez quimio e estou no caos”, fraqueja. “Não estou para gastar dinheiro, antes quero ir fazer uma viagem... Se tiver saúde."

Teresa concorda e declara-se contente por conseguir, mesmo com alguns tropeços e sustos, continuar com a sua rotina e passeios. “Dou graças a Deus que ainda cá ando com a minha idade e tento levar a vida calmamente."

“Quando não ouço, não ouço, filhinha." E depois simula, com prontidão e entusiasmo, como interage com os filhos dependo se tem ou não aparelho consigo:

"'-Trouxeste o ouvido?

-Não!

-Ah, então temos de falar mais alto'.

Ou...

'-Trouxeste o ouvido?

-Trouxe.

-Então, ela ouve tudo! Cuidado que ela agora vai ser malandra. Diz-nos que não está a ouvir e está a ouvir tudo'."

Tenta levar as coisas com humor. “Não levo as coisas a piorar!". Não há outra maneira para Fernanda. “Sabe o que dizem os meus médicos? 'Ó, senhora Fernanda, às vezes não vale a pena ouvir tanta coisa. Antes vale esquecer'."

"A vida é a vida e é assim, não é?”, conclui Teresa.



RR
 

Offline Sardinha

 
Ouve zumbidos ou tem dificuldades a acompanhar conversas? Provavelmente está a perder audição

CNN , Kristen Rogers
Ontem às 09:00


Se está com dúvidas quanto ao estado da sua audição, os autores da investigação salientam que "os principais sinais de aviso de perda de audição incluem zumbidos, dificuldades em ouvir sons agudos ou dificuldades em acompanhar conversas"
No que se trata a estar exposto a sons extremamente altos em concertos, os investigadores há muito que alertam para as consequências para a audição. Mas estes riscos também podem surgir quando se joga videojogos, de acordo com uma nova investigação.

A investigação - que é uma revisão inédita de 14 estudos e que se totaliza na análise de cerca de 54.000 adultos e crianças em todo o mundo - revelou que, quando os participantes jogavam videojogos, os níveis sonoros médios quase sempre excediam ou ultrapassavam os limites de exposição sonora permitidos, cujos riscos aumentam à medida que as pessoas passam mais tempo expostas a eles.

A investigação também revelou que "as pessoas que jogam regularmente, em comparação com as que não jogam, têm mais probabilidades de sofrer de zumbidos, perda auditiva de alta frequência e dificuldades auditivas auto-percebidas", afirmou a audiologista e epidemiologista Dra. Lauren Dillard, primeira autora do estudo publicado na terça-feira na revista BMJ Public Health, por correio eletrónico. "Um estudo mostrou que as pessoas que jogam videojogos durante muito tempo correm um risco maior de desenvolver perda auditiva ou tinnitus [usualmente chamado zumbido e que também é conhecido como acufeno]."


Tinnitus refere-se a uma sensação interna de zumbido, vibração ou ranger num ou em ambos os ouvidos. Este é um problema auditivo que afeta entre 10% a 25% dos adultos.

Os jogos são uma das atividades de lazer mais populares em todo o mundo, segundo o estudo, e os adeptos desta tecnologia muitas vezes jogam durante períodos de tempo de várias horas. É por isso que os autores do estudo se questionaram sobre qual poderia ser a relação entre perda auditiva e tinnitus - especialmente porque muitos jogos também têm sons altos e repentinos, como tiros ou motores a acelerar. Ouvir o áudio dos jogos de vídeo através de auscultadores, em vez dos altifalantes do dispositivo, também é comum, e isso posiciona os volumes altos mais perto dos ouvidos. Esta prática é ainda mais frequente em ambientes onde os jogadores se veem obrigados a aumentar o volume com o propósito de abafar o ruído da multidão como acontece nos centros de jogos.

"Este estudo abre os olhos, realçando a questão frequentemente ignorada da perda auditiva induzida pelo som entre os jovens, particularmente em relação aos jogos", afirmou o Dr. De Wet Swanepoel, professor do departamento de patologia da fala e da linguagem e audiologia da Universidade de Pretória, na África do Sul, por correio eletrónico. Swanepoel não participou no estudo.


"De acordo com a OMS, estima-se que mais de mil milhões de jovens em todo o mundo estejam em risco de perda de audição devido a hábitos auditivos inseguros", acrescentou Swanepoel, também professor adjunto no departamento de otorrinolaringologia-cirurgia de cabeça e pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado. "Embora as evidências ainda estejam a evoluir ... (o estudo) é uma adição crítica à nossa compreensão dos riscos para a saúde auditiva nos estilos de vida digitais modernos."

Quais são os níveis de som seguros?
A forma como esta exposição a sons altos pode afetar a audição prende-se com a fadiga das células sensoriais do ouvido, disse Dillard, consultor da Organização Mundial de Saúde. "Isto pode resultar numa perda temporária de audição ou num zumbido nos ouvidos", acrescentou. "Embora estas sensações possam desaparecer em poucos dias à medida que as células sensoriais recuperam, a exposição regular ou prolongada ao ruído pode acumular-se e resultar em perda permanente de audição ao longo do tempo."


Os limites de exposição ao ruído em que o estudo se centrou foram publicados pela União Internacional das Telecomunicações em colaboração com a OMS, que considerou 80 decibéis - a medida da intensidade do som - durante 40 horas por semana como a exposição máxima segura. De acordo com os Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), este valor é semelhante ao do trânsito urbano a que os condutores estão sujeitos quando estão atrás do volante, ou ao barulho gerado pelos cortadores de relva a gás e sopradores de folhas.

A intensidade do som tem um "compromisso tempo-intensidade, conhecido como uma taxa de câmbio, para níveis permitidos e duração da exposição", escreveram os autores. "Por conseguinte, os níveis admissíveis de exposição ao ruído variam drasticamente consoante o nível sonoro", aponta o CDC.

Isto significa que quanto mais alto for um som, mais curto é o tempo que este pode ser ouvido por um ser humano. Por exemplo, por cada 3 decibéis acima do limite seguro de 80 decibéis durante 40 horas por semana, o tempo de exposição permitido é reduzido para metade - por isso, se o nível de som for de 83 decibéis, o tempo de exposição permitido seria de 20 horas por semana.


Para as crianças, no entanto, os níveis permitidos são mais baixos, 75 decibéis durante 40 horas por semana. "Segundo esta definição", acrescentam os autores, "as crianças podem ouvir com segurança... um som de 83 decibéis durante cerca de 6,5 horas, um som de 86 decibéis durante cerca de 3,25 horas, um som de 92 decibéis durante 45 minutos e um som de 98 decibéis durante apenas 12 minutos por semana".

Um som de 98 decibéis é equivalente ao ruído de um motociclo, de uma buzina de automóvel a cinco metros de distância ou de um comboio do metro que se aproxima.

Formas mais seguras de jogar
Para muitas pessoas, o jogo pode ser um passatempo ou uma fonte divertida de alívio de stress ou até um local digital que proporciona um sentimento de comunidade e pertença, mas os danos auditivos são permanentes e a exposição a sons de alta intensidade nos jovens pode tornar as crianças mais vulneráveis ao desenvolvimento de perda auditiva relacionada com a idade com o passar dos anos, pelo que os autores apelam à importância da prevenção.


"Sempre que possível, monitorize a quantidade de som a que está exposto", afirmou Dillard.

Alguns smartphones têm agora funcionalidades que mostram o número de decibéis que passam pelos altifalantes ou auscultadores, disse a Dra. Janet Choi, professora assistente de otorrinolaringologia clínica - cirurgia de cabeça e pescoço na Keck School of Medicine da Universidade do Sul da Califórnia. Choi não esteve envolvida no estudo.

Existem também aplicações que podem medir a intensidade do som ambiente.

Se tiver sintomas, contacte o seu médico ou um audiologista, dizem os especialistas.

Se não tiver acesso a um profissional de audição, existem "aplicações validadas, como a hearWHO, que o podem ajudar a verificar e monitorizar a sua audição", acrescentou Dillard.

A adoção de hábitos auditivos seguros desde o início é crucial, disse Swanepoel.

"Ao fazê-lo, poderá desfrutar de todos os sons maravilhosos que a vida tem para oferecer durante muitos anos", acrescentou. "Não se trata apenas de prevenir a perda; trata-se de preservar a riqueza do som na nossa vida quotidiana."


Se não tiver uma forma de medir níveis específicos, "mantenha o volume do jogo num nível confortável, não superior a 60% do máximo", disse Swanepoel. "Se estiver a utilizar auscultadores, compre um par que se adapte bem e bloqueie o ruído de fundo, para não se sentir tentado a aumentar o volume."

Não se esqueça de fazer pausas para deixar os seus ouvidos descansarem, dizem os especialistas.

Certifique-se também de que presta atenção às alterações na sua audição. "Os principais sinais de aviso de perda de audição incluem zumbidos, dificuldades em ouvir sons agudos ou dificuldades em acompanhar conversas", afirmou Dillard.



Fonte: https://cnnportugal.iol.pt/videojogos/playstation/ouve-zumbidos-ou-tem-dificuldades-a-acompanhar-conversas-provavelmente-esta-a-perder-audicao/20240302/65ddcbf7d34e8d13c9b83347
 

 



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