É paralisia infantil, mas marca a vida todaData: 08/07/2018 | 09:00
Foto: Débora Kist / Folha do MateLeni tem sempre à mão muleta e bengala, o apoio necessário para caminhar
Leni tem sempre à mão muleta e bengala, o apoio necessário para caminhar
O Ministério da Sáude emitiu um alerta na última terça-feira, 3, para a baixa vacinação contra a paralisia infantil. 312 cidades não vacinaram nem metade das crianças menores de 1 ano em 2017. Não há casos atuais de poliomielite, mas a possibilidade do retorno da doença traz a memória de um passado que muitos não viveram - e a intenção é chamar a atenção para isso.
Leni Martins da Silva tinha apenas três anos quando soube que nunca mais caminharia normalmente. Isso aconteceu em 1954, na região de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, em uma das visitas à casa da avó. Foi no trajeto da volta, no meio de um campo, que ela lembra de cair e dizer ao tio que não conseguia ficar em pé. 'Ele me pegou no colo e levou pra casa. Naquela noite também tive febre. Depois nunca mais consegui caminhar direito.'
As lembranças de Leni, hoje com 67 anos, marcaram o momento em que ela descobriu que tinha contraído poliomielite, a popular paralisia infantil. Em meados dos anos 50, numa época sem vacina e sem tratamento, o jeito foi aceitar o fato constatado pelos médicos. 'Eles disseram pra mãe: essa doença não tem vacina, não tem cura e tua filha vai conviver com ela a vida toda', conta.
Ainda pequena, Leni e a família mudaram para a cidade para que ela tivesse assistência médica necessária. Na infância e na adolescência, lembra que tinha vergonha dos outros jovens. 'Era bobice minha, mas eu ficava sem jeito.' Já adulta, a dificuldade motora não impediu que trabalhasse, mas foi de uma forma diferente. 'Minha mãe trabalhava em uma fumageira e na época eles me contrataram e assinaram minha carteira de trabalho. Eu destalava fumo em casa.'
Hoje aposentada, Leni mora sozinha. Não casou, nem teve filhos. Faz tudo sozinha, ou quase, porque uma vez por semana uma faxineira faz a limpeza da casa. Para caminhar, sempre tem à mão uma muleta e uma bengala.
Nascida quando a vacinação contra a poliomielite ainda nem existia, Leni é enfática. 'Se tivesse naquela época, minha mãe teria me levado pra tomar a vacina. Então hoje em dia não tem por que os pais descuidarem disso. Essa doença marca, mas não precisava existir.'
Fonte:
http://www.folhadomate.com/noticias/geral15/e-paralisia-infantil-mas-marca-a-vida-toda