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Autor Tópico: Quem fala assim... será gago?  (Lida 1671 vezes)

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Online Sininho

Quem fala assim... será gago?
« em: 25/10/2021, 12:00 »
 
Quem fala assim... será gago?


Quando o tema é a gaguez, invariavelmente todos sabem do que falamos. Há sempre uma história de um tio, de um colega de escola ou de um vizinho que gagueja, ou que gaguejava quando era pequeno e deixou de gaguejar. Sendo uma realidade tão familiar e comum, temos até provérbios alusivos a esta condição, sendo o mais famoso o tal “Quem fala assim, não é gago!”, usado justamente para destacar as qualidades de alguém enquanto comunicador, desfazendo as qualidades de comunicador daqueles que vivem com esta condição. Mas já lá iremos.

Falando de uma realidade tão vulgar, que afecta cerca de 1% da população, seria de esperar que não surgissem dúvidas quanto a este diagnóstico. Enquanto terapeuta da fala, chegam-me inúmeros pedidos de ajuda bastante inespecíficos noutras áreas, tais como: “ela diz mal algumas letras” ou “não se percebe bem o que ele diz” ou ainda “ela fala muito rápido” ou “teve uma trombose e ficou apanhado da fala”. Tudo muda quando se trata de um caso de gaguez. Nestes casos, os pedidos de ajuda são bastante inequívocos: “o meu filho está a gaguejar!” ou “eu sou gago!”.

No entanto, senti a necessidade de escrever este texto porque recebo algumas questões sobre determinados exemplos de pessoas que suscitam dúvidas nos outros quanto à “veracidade” da sua gaguez. Esta questão prende-se, essencialmente, com a variabilidade que é característica da gaguez. Porque uma mesma pessoa, por diversos factores e/ou em vários contextos, pode gaguejar ou não. Como será possível que a mesma pessoa fale fluentemente em determinadas situações e mal consiga pronunciar duas palavras “de seguida” em outros momentos? Será que esta variabilidade mata a credibilidade?

Um dos “exercícios” que fazemos com os utentes em terapia é, precisamente, o de os levar a perceber que são muito mais do que a sua gaguez. Porque ninguém gagueja durante todo o tempo em que fala. Todos têm memórias de fala fluente. Porque é que o mundo insiste em colocar uma carga negativa nos momentos de fluência, pondo em questão se “será mesmo gago, se ainda agora falou sem interrupções…?” e atribuindo uma carga igualmente negativa nos momentos de gaguez porque é uma fala “diferente”?

De que forma este desconhecimento sobre a variabilidade desta condição afecta todos os envolvidos no processo de comunicação? Afecta quem gagueja porque não consegue prever em que momentos irá gaguejar, vivendo permanentemente à espera daquela altura em que perderá uma oportunidade de se expressar ou dizer exactamente o que quer dizer, tendo de (re)programar todo o seu discurso, com planos A, B e C, para fintar a malvada da gaguez, caso esta decida aparecer. Afecta também quem está a ouvir a pessoa que gagueja, porque pode haver uma total surpresa no momento em que a gaguez surge ou, quando já se sabe que existe, a tal surpresa e incredulidade quando ela não aparece.

Como gosto de ditados populares, pergunto: serão as pessoas que gaguejam “presas por ter cão e por não o ter”? E se nos focássemos mais no conteúdo e menos na forma? E se abandonássemos definitivamente a ideia que uma pessoa que gagueja não pode ser um bom comunicador? E se a gaguez fosse apenas uma forma diferente de falar, como tantas outras, e servisse menos como factor identitário? Talvez deixássemos de discutir sobre se é melhor usar a palavra “gago” ou a expressão “pessoa que gagueja”, porque o que interessa é a mensagem e não o seu veículo de transmissão.

Deixo-vos com uma das frases que costuma ser usada a propósito do Dia Mundial da Consciencialização para a Gaguez, que se assinala a 22 de Outubro: “It’s OK to stutter, because what I say is worth repeating”. Fosse tão fácil traduzir expressões inglesas para português, como arranjar provérbios e seria facílimo reduzir este texto a uma única frase. Cada língua com a sua beleza.

Maria João Morgado

Fonte: P3
Queira o bem, plante o bem e o resto vem...
 

 



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