Jogos Paralímpicos: Simone Fragoso vai ser a primeira portuguesa a competir em PowerliftingAos 44 anos, a atleta natural de Palmela falou com a NiS sobre a sua preparação especial para este desafio.
12/08/2024 às 13:19
A prova de Simone decorre a 4 de setembro. (DR)
texto
Filipa Isabel Pereira
Aprimeira vez que Simone Fragoso competiu nos Jogos Paralímpicos, na modalidade de natação, foi em Pequim, no ano de 2008. Seguiu-se Londres, em 2012, e Rio de Janeiro, quatro anos depois. Desta vez, largou as braçadas na piscina e é a grande culpada da estreia nacional na competição de Powerlifting.
Os Jogos Paralímpicos 2024 decorrem em Paris, de 28 de agosto a 8 de setembro. Mas para perceber o percurso da atleta, temos de recuar até 1986 — foi com seis anos que começou a nadar e se apaixonou pelo desporto. A primeira vez que competiu na modalidade foi com cerca de 24 anos, mas, antes disso, criou uma pequena equipa de natação adaptada de masters, em Palmela, onde mora.
Simone sempre aliou o amor pelo desporto com a música. Tirou o curso de Animação e Teatro e Educação Musical, um mestrado em Música e uma licenciatura em Ciências do Desporto. Ao longo dos anos fez parte do vários conservatórios palmelenses e, atualmente, é professora de música e de natação.
“Comecei a ver-me a fazer as duas coisas. Complementam-se. Aquele pequeno grupo de trabalho de natação adaptada era muito bom e as pessoas começaram a aparecer”, diz Simone à NiS.
Quanto ao desafio de competir pela quarta vez nos Paralímpicos, mas desta vez com o título de primeira portuguesa a competir na modalidade de Powerlifting, Simone faz questão de frisar que não foi um percurso fácil. “Estamos entusiasmados, mas trabalhámos quase quatro anos nesta modalidade e foi uma luta para tentar perceber como é que funcionava. Tivemos de tirar um curso, para compreender os erros, pelo que era composto, como é que se procedia, quais eram as dinâmicas”.
E acrescenta: “Eu e o Ricardo, o meu treinador, em consonância com a Federação, tentámos perceber como é que estas coisas funcionavam e atiramo-nos de cabeça. Era tudo novo e foi até à última que conseguimos fazer a marca de qualificação”, diz a atleta, que nunca pensou em desistir. “Eu sou assim. Muito teimosa e persistente. Quando ponho uma coisa na cabeça, é até conseguir”.
A intensidade da preparação não diminui. “Andei a dar cabo do corpo todo porque com esta modalidade há muita repetição. Vou-me lembrar disto daqui a dez anos quando as mazelas começaram a aparecer”, refere a atleta. Foram também necessários equipamentos específicos. “Enviaram bancos de supino, onde estou deitada e amarrada nos pés. Tudo isto levou algum tempo, porque antes treinávamos num banco normal de ginásio. O Ricardo tinha de me prender os pés com uma baía”.
Garantiu a participação com a marca de 59 quilogramas.
Os treinos — três a quatro por semana — são realizados no Centro Desportivo Nacional do Jamor, “intercalando a intensidade semanalmente”, e sempre com regras porque “o corpo já sente o amasso”. Treina das 10h30 ao meio-dia, nos tempos livres e ainda pratica natação. Tudo isto combinado com a sua carreira como professora.
Os primeiros pesos que levantou foram de 40 quilogramas. Na altura lembra-se que “custou imenso”. Mas, com o passar do tempo, Simone aumentou a carga e garantiu os requisitos para participar na competição na Taça do Mundo de ParaPowerlifting, em Tiblissi, na Georgia, no mês de junho, com o levantamento de 59 quilogramas. Agora, a meta para os Jogos Paralímpicos é passar essa marca e conseguir “um quinto ou sexto lugar na tabela”. Não ambiciona medalhas, “para já”, tendo em conta que se trata de uma estreia. E o sucesso é “sempre progressivo”.
No que respeita à alimentação, o objetivo passa ganhar massa muscular depressa. Quanto mais pesar, mais carga vai conseguir levantar. E isso não é um desafio fácil de ultrapassar.
“Como muitos hidratos, alguma proteína, batidos, papas de aveia e a verdade é que tivemos de fazer uma mudança. O Ricardo quer que eu coma fast-food uma vez por semana, mas não sou muito apologista deste género alimentar e nem sou gulosa”, explica a atleta.
Não tem nenhum hábito e cumpre tudo à risca. “Ganhar peso é tão ou mais complicado do que levantar peso. Chega a ser um sacrifício. Na natação, tinha quase sempre o mesmo e certo, que era 25 quilogramas. Agora, já tenho 29, mas foi uma guerra comigo mesma. Mês a mês vou ganhando mais uns gramas, mas tem sido um processo vagaroso. Ainda por cima perco peso muito depressa”.
“Vou daqui e faço sacrifícios, porque tem mesmo de haver neste nível de competição. Não é para todos. Temos de ser muito bons. Percebemos que o nível de estar nos Paralímpicos é muito alto. É um espelho dos resultados que temos e a nossa região é pioneira. Só por isso, já é muito gratificante”.
A prova de Simone decorre a 4 de setembro, entre o meio-dia e as 15 horas. Siga o Instagram da atleta para acompanhar todos os momentos do seu percurso internacional.
Fonte:
https://newinsetubal.nit.pt/fit/jogos-paralimpicos-simone-fragoso-vai-ser-a-primeira-portuguesa-a-competir-em-powerlifting/