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Autor Tópico: Sombras no ecrã  (Lida 29 vezes)

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Online Anibal12

Sombras no ecrã
« em: 02/10/2025, 20:26 »
 
Sombras no ecrã
Marta sentou-se no banco de pedra fria os olhos fixos, no chão, as mãos termião sobre as pernas. A blusa fina não protegia do vento do fim da tarde, mas esse era o menor dos prolemas. Um pouco afastado Afonso observava- a como sempre. Ela não precisava de olhar para saber que ele estava ali. Sentia a sua presença como uma sombra que nunca a largava notava a nos pequenos pormenores – no amigo que já não falavam com ela nos locais que deixara de frequentar, nas massagens que apagava antes que ela pode-se vê-las. O controle                 começou quase de forma impercetível. No início parecia quase uma curiosidade invencível:” posso ver as tuas mensagens? confias em mim, não?” marta hesitava, mas acabava por ceder. Afinal não queria que ele achasse que ela escondia algo. Depois vieram os comentários sobre os amigos. “esse rapaz gosta de ti já viste a maneira como te olha? devias afastar-te”, e a marta afastou-se. Quando se deu conta Afonso já tinhas sua senha, o acesso ao seu telemóvel e redes sociais   dizia que era por amor, para a proteger porque o mundo era perigoso e a pessoas falsas. cada notificação que recebia era motivo para uma discussão e para mais recriminações. marta começou a esconder o telemóvel e a responder rapidamente   as mensagens para não levantar suspeitas, a viver num estado de alerta contante. uma tarde Afonso encontrara uma conversa sua com uma amiga, na qual marta num desabafo, tinha dito que ele era demasiado controlador. a bofetada veio sem aviso. o impacto fez com que marta cobalesse, com a face em chamas, marejados de lágrimas, por um segundo, Afonso ficou telemóvel de olhos arregalados, como se nem ele acreditasse no que tinha feito. feito depois puxo-a para si num abraço apertado beijou-lhe os cabelos surrou-lhe depois aos ouvidos. foi a primeira e última e prometo. é porque te amo demasiado.” ela quis acreditar, mas não foi a primeira vez. as ameaças verbais passaram a ser frequentes. primeiro em tom de brincadeira com um sorriso frio: se me deixas também não serás de mais ninguém.” depois transformaram-se em promessas   de vingança: se me traíres vai ver o que sou capaz”.  capaz.” Os apertões no braço deixavam marcas, os puxões faziam-na tropeçar. Certa vez, quando Marta tentou evitar uma discussão saindo da casa dele, Afonso empurrou-a contra a parede, a mão a apertar-lhe o pulso com força. Os olhos dele pareciam perigosamente vazios quando lhe disse: “Não me ignores!” Agora, ali sentada, Marta sabia que Afonso se aproximava. Olhou para a própria silhueta refletida no vidro de um prédio próximo. A imagem era distorcida, fragmentada, como se fosse feita de pedaços que já não encaixavam. — Estás a ignorar-me? — A voz dele era baixa, mas pesada e sombria. Marta virou-se lentamente. O olhar de Afonso cravava-se nela como uma faca. Nisto, o telemóvel dela começou a vibrar. Ele estendeu a mão. — Dá-me o telemóvel! Os dedos dela apertaram-se sobre o aparelho dentro do bolso. Não queria ceder. Não queria entregar mais um pedaço de si. Afonso deu mais um passo. O brilho dos candeeiros refletia-se nos seus olhos dando-lhe um brilho metálico. — Marta, não me faças perder a paciência! Ela fechou os olhos por momentos. Sentiu o medo, o peso de cada noite em claro, de cada palavra cuidadosamente medida para evitar uma explosão. Lembrou-se das vezes em que teve de sorrir para esconder as lágrimas, das mensagens apagadas para evitar suspeitas, das marcas roxas que cobriu com mangas compridas. Mas também sentiu algo de novo: raiva. Raiva por todas as vezes em que se calou, por cada pedaço de si que permitiu que Afonso apagasse. Raiva por ter vivido tanto tempo em função do medo. E essa raiva, pela primeira vez, deu-lhe força. Quando abriu os olhos, levantou-se. — Não. A palavra saiu trémula, mas firme. Afonso riu-se, como se ela tivesse contado uma piada absurda. Mas Marta não recuou. — Vai-te embora! Ele demorou um momento a perceber que ela não ia ceder. Primeiro, a incredulidade estampou-se no seu rosto, como se a simples ideia de Marta desafiar a sua autoridade fosse absurda. Depois, os olhos dele escureceram, a mandíbula retesou- -se-lhe, e os punhos cerraram-se ao lado do corpo. Pela primeira vez, Marta viu nos olhos dele algo além da raiva. Viu medo. Medo de perder o controlo, de perceber que a sua manipulação e ameaças já não funcionavam. Afonso pestanejou e respirou fundo, como se procurasse recuperar o domínio da situação, mas o tremor ligeiro nos dedos denunciava a sua frustração. — Vais arrepender-te — disse apenas. Virou costas e afastou-se na penumbra. Marta deixou-se ficar, com o coração a bater desordenadamente. Sabia que aquilo não terminava ali. Mas, pela primeira vez, sentiu que poderia haver uma saída. Pegou no telemóvel e marcou um número que andara a evitar há meses: o da linha de apoio às vítimas de violência. — Olá… preciso de ajuda. E naquele momento, algo dentro dela mudou. O primeiro traço de uma nova pintura, longe das sombras de Afonso.                       
anibal ribeiro
 

 



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