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Autor Tópico: Flores murchas  (Lida 211 vezes)

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Offline Anibal12

Flores murchas
« em: 05/10/2025, 15:22 »
 
Alice sempre fora uma rapariga de primavera. trazia nos olhos o brilho do sol,  e no coração o vermelho vivo das propilas que tanto amava. costumava dizer que aquelas flores eram como ela: frágeis, mas vibrantes. quando conheceu Miguel  sentiu que finalmente alguém via aquele vermelho – a cor da vida que existia dentro dela. para ti porque esta flor combina contigo dissera ele oferecendo-lhe uma papoila acabada de colher no campo.  Alice sorriu      , encantada, e acreditou. Acreditou no olhar dele, nas palavras doces, nas promessas sussurradas. Deixou-se levar pelo que parecia um amor puro, sem ver as pequenas sombras que começavam a desenhar-se na luz.
Com o tempo, as flores começaram a murchar.
— Não devias vestir-te assim. Não te favorece muito — começou ele a dizer um dia, com um leve sorriso, como se fosse uma sugestão inofensiva. E acrescentou: — Digo isto para teu bem, quero que fiques mais bonita, mais… tu mesma.
Por momentos, Alice ficou confusa, mas não respondeu. As palavras pareciam suaves, ditadas por um desejo de proteção. No dia seguinte, trocou o seu vestido leve por um traje mais discreto, mais coberto. Sentiu-se estranha, como se estivesse a esconder- -se, mas pensou: "É amor. Tudo se faz por amor."
Mas não foi suficiente.
— Falas demasiado. Tens sempre de dizer alguma coisa!
A frase surgiu durante um jantar com amigos. Ela sorria e contava uma história, com os olhos brilhantes e as mãos a moverem-se expressivamente. Miguel pousou o copo com um som seco. O olhar dele encontrou o dela por um breve instante. Não foi preciso dizer mais nada. O coração de Alice encolheu-se, e as palavras ficaram-lhe retidas na garganta. Depois disso, ela começou a medir cada frase antes de falar. Será que se excedia? Será que ele tinha razão?
A partir daquele dia, as suas palavras foram-se tornando escassas, as histórias silenciaram-se, e o riso diminuiu. Alice habituava-se, sem dar por isso, a ocupar cada vez menos espaço.
— Essa questão não tem importância nenhuma, Alice. Acaba com a conversa!
Miguel costumava falar assim quando ela se mostrava preocupada com alguma coisa. Como se os seus problemas fossem pequenos, quase irreais. Uma lágrima solitária ia-lhe correndo pela cara enquanto ele sorria, convencido de que estava a ensiná-la a ser melhor. Alice sentia-se culpada. Talvez o seu namorado estivesse certo. Talvez ela realmente se preocupasse demais, falasse demais, sentisse demais.
E, sem se aperceber, Alice começou a duvidar. De si, das suas roupas, das suas palavras. O amor dela por Miguel, que um dia a fizera sentir-se invulnerável, começava agora a parecer-lhe uma coleira invisível.
— Já ninguém tem paciência para essas coisas de romance, Alice. Acorda!
A frase veio numa noite qualquer, quando ela lia um dos seus livros preferidos.
Miguel lançou-lhe um olhar breve, frio. Alice fechou o livro e pousou-o devagar. Aquelas palavras que ela gostava de ler, e que um dia a tinham feito sonhar, eram agora consideradas infantis. Será que era ela quem estava errada? Será que tudo aquilo — flores, histórias, amor — não passava de fantasias?
Foi assim que o amor se transformou num campo de flores pisadas. Primeiro uma pétala aqui, depois uma folha ali, até Alice mal se reconhecer. As roupas eram cinzentas, o olhar vazio, e os sonhos tinham desaparecido. Onde antes havia vida e cor, agora só restava silêncio.
Um dia, parou diante do espelho. Olhou-se longamente e, pela primeira vez, deu-se conta do que tinha acontecido. Viu a rapariga que já não sorria. Os olhos que um dia foram brilhantes e que agora refletiam apenas cansaço. Um campo de papoilas arrancadas.
Estendeu a mão para o seu reflexo, como se procurasse algo que não sabia nomear.
— Onde estou eu? — murmurou.
O silêncio foi a única resposta.
Alice deixou-se cair sobre a cama e chorou. Chorou por todas as vezes em que acreditou que a culpa era dela. Por todas as palavras que engoliu, pelos sonhos que deixou morrer. Mas, de repente, no meio das lágrimas, sentiu algo dentro dela renascer — uma pequena, frágil certeza: o amor não devia doer assim.
Naquela tarde, saiu de casa e caminhou até ao campo onde tudo começara. O vento soprava, e as papoilas dançavam à sua volta, livres. Ajoelhou-se entre as flores e tocou nelas com cuidado. O vermelho vivo contrastava com o tom pálido da sua pele, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentiu no peito uma centelha de vida.
— As flores só crescem quando estão livres — murmurou.
Ali, entre as papoilas, Alice prometeu a si mesma que nunca mais deixaria alguém roubar-lhe as cores. Que voltaria a ser inteira, mesmo que isso significasse começar do zero.
E quando se levantou, sentiu-se mais leve. O caminho seria longo, mas ela sabia: era tempo de voltar a florescer
                                                                                                                                                             assinado anibal ribeiro



Fonte: https://contadoresdestorias.wordpress.com/2025/04/30/flores-murchas/

« Última modificação: 06/10/2025, 20:54 por Nandito »
anibal ribeiro
 
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