Min. da Saúde reforça hemodiálise nos hospitais públicos 
Corte de 3% nos preços será acompanhado de mais exames e cirurgias.
O Ministério da Saúde quer reforçar a oferta de tratamentos de hemodiálise nos hospitais públicos, uma medida que permitirá reduzir a actual dependência do sector privado, que controla 90% dos tratamentos na área da insuficiência renal. De acordo com o secretário de Estado da Saúde, Óscar Gaspar, "está a ser equacionado o investimento na área da diálise em hospitais públicos em zonas onde esta não exista", avança ao DN.
Ao mesmo tempo, as negociações com o privado decorrem, em fase de contenção orçamental. O Ministério da Saúde impôs um corte de 6%, por considerar que a redução dos preços dos medicamentos ou o aumento do número de doentes já não justificam as verbas actualmente despendidas, até porque o investimento feito em equipamentos estava pago.
Há dias definiu-se o corte de 3% no preço semanal por doente (548 euros), em vez dos 6%, o que permitiria poupar 15 milhões. As empresas teriam de passar a prestar mais serviços além dos tratamentos de diálise, medicamentos, exames associados à doença e consultas de nefrologistas ou dietistas.
César Silva, presidente da Associação Nacional de Centros de Diálise diz que a nova proposta "é uma solução melhor até para o doente", lembrando os custos adicionais com o reforço das equipas e aquisição de material para mais doentes. "Vamos fazer os acessos vasculares [construção de vasos que aumentem circulação de sangue] e deixar de fazer os tratamentos por catéter, que atrasam a limpeza do sangue e geram mais infecções. Era a única área em que tínhamos atrasos", diz. A isto vão juntar as transfusões de sangue ou a realização de mais exames.
Solução que surge depois de a Anadial rejeitar a proposta de 6%. "Mandou-nos uma carta a avisar que o tratamento de novos doentes, cerca de 2500 por ano, estaria em risco. E ainda ameaçou que iria cortar na qualidade dos cuidados", diz Carlos Silva, presidente da Associação Portuguesa de Insuficientes Renais.
De acordo com um parecer da Entidade Reguladora da Saúde, a que o DN teve acesso, os hospitais públicos têm 20% da oferta e prestam cuidados a um em cada dez insuficientes renais crónicos, que precisam destes tratamentos. No entanto, poucos hospitais o fazem, apesar de os preços serem inferiores (ver texto ao lado).
O documento defende uma maior concorrência, avançando que Portugal tem uma situação "única" a nível europeu, por depender dos privados, que controlam, não só os tratamentos mas também o abastecimento e a restante cadeia de serviços nesta área. E, por isso, dá um parecer positivo à avaliação prévia por parte da ERS de todas as novas convenções que surjam na área.
DN