Ofuscado pelo gene-irmão p53, responsável pela supressão dos tumores, o gene p63 desempenha a importante função de sufocar a propagação do cancro para outros órgãos, apontam investigadores do Centro do Cancro MD Anderson, da Universidade do Texas, nos EUA, avança o site Isaude.net.
O p63 bloqueia a metástase a partir da activação de uma enzima, denominada Dicer, que desempenha um papel na criação de micro RNAs, pequenos pedaços de RNA que regulam uma série de processos celulares.
"O p63 é um regulador mestre de metástases, mas, até agora, ninguém tinha entendido como a Dicer era regulamentada", disse Elsa R. Flores, professora adjunta no Departamento de Oncologia Molecular e autora do estudo.
O papel central da Dicer na regulação do miRNA indica que a ligação p3-Dicer pode ter repercussões em outros processos celulares, explica Flores.
A equipa também demonstrou que a p63 activa um miRNA que suprime a formação de tumores e metástases.
A doença metastática é responsável por cerca de 85% das mortes por cancro.
Estudos anteriores mostraram que o p53 mutante, comummente encontrado em metástase de cancro humano, inactiva o p63. "As nossas descobertas indicam que a reactivação da TAp63 nos tumores sem expressão TAp63 ou naqueles que expressam p53 mutante poderia beneficiar pacientes com doença metastática", disse a investigadora.
Um facto intrigante sobre o p63 é que possui super expressão em alguns tumores e baixa expressão noutros. Flores explicou que a diferença depende da forma como a proteína é produzida. A proteína TAp63 inclui uma área que é essencial para a activação de genes-alvo, que protegem as células dos danos do AND. Uma segunda versão, que não possui esse domínio TA, actua contra os genes p53, p63 e p73 e está associada com a progressão do cancro.
Os investigadores examinaram o papel da TAp63 pelo desenvolvimento de linhagens de ratinhos sem ambas as cópias do gene TAp63 e outros que tinham uma versão intacta e uma versão alterada.
As descobertas mostraram que os ratos nos quais uma ou duas cópias da TAp63 estão ausentes desenvolveram espontaneamente carcinomas e sarcomas. Estes tumores, em geral, fazem metástase para o fígado, pulmões e cérebro. Os animais com ausência do p53 desenvolveram cancros não-metastáticos. Já aqueles que perderam um exemplar de p53 e TAp63 apresentaram um cancro invasivo e metastático.
A equipa descobriu, ainda, que os ratos com ausência de apenas uma cópia de TAp63 tiveram tumores mais agressivos do que aqueles que não possuíam as duas cópias.
Experiências adicionais mostraram que TAp63 liga-se à região promotora do gene Dicer, onde pode activar a expressão da enzima. A re-expressão da Dicer em células TAp63 deficientes bloqueou a capacidade das células tumorais de migrar e invadir células saudáveis.
Flores e os seus colegas estão a investigar como a isoforma p63 afecta o desenvolvimento do cancro e metástases. O objectivo é entender os mecanismos das isoformas p63 no cancro e melhorar a terapia direccionada para os pacientes com alterações na via p53/p63.
Fonte: POP