Como falar com as crianças sobre o COVID-19? As explicações de uma pediatraPediatra Joana Martins
13 mar 2020 08:56
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Explicar que não vai haver festas de aniversário, idas ao centro comercial, passeios de comboio, exposições, teatros ou concertos infantis é só reforçar a ideia geral de proteção. Saiba como fazê-lo com as recomendações da médica pediatra Joana Martins.
Como falar com as crianças sobre o COVID-19? As explicações de uma pediatra

Não tenhamos dúvidas: agora que a decisão política de encerrar as escolas foi efetivamente tomada, as perguntas vão ser mais do que muitas.
Talvez o centro da questão não seja, propriamente, porque é que se fecham as escolas ou por quanto tempo, mas antes o que podemos fazer do ponto de vista familiar para preparar as nossas crianças para as próximas semanas?
Porque não, não são férias! Durante as próximas 2 a 4 semanas não vamos poder passear, nem ir à praia, nem a casa de amigos, nem ao parque, nem ao cinema, nem ao trampolim. E isso precisa de ser explicado.
Temos este hábito terrível de achar que como adultos, vamos conseguir filtrar, controlar, e interpretar a informação que chega às nossas crianças. Mas lamento informar-vos: a informação chega de todos os lados, inadvertidamente, e tudo aquilo que conseguirmos veicular será interpretado de forma completamente inesperada dentro das suas pequenas cabeças. Daí a importância de explicar factos verdadeiros e simples. Sem arabescos. E responder exatamente ao que nos estão a perguntar, sem ter medo de responder "não sei".
FICAR EM CASA, DESCANSAR, VIGIAR SINTOMAS E BRINCAR COM OS NOSSOS FILHOS EM CASA É TRAVAR ATIVAMENTE A TRANSMISSÃO VIRAL
Tenho duas sugestões para o fazer:
Partir do exemplo da gripe, que mesmo os miúdos mais pequenos conhecem, para explicar os sintomas – a febre, a dor de cabeça, o ranho, a tosse e os espirros – e para explicar a forma de contacto: abraços, beijinhos, falta de lavagem frequente e bem executada das mãos, falta de etiqueta respiratória como tossir e espirrar para um lenço descartável ou para a dobra do cotovelo.
Os miúdos reconhecem estas recomendações, não são nada de novo. E aceitam-nas. Só não vão entender porque é que, se na gripe comum, as escolas não fecham nem ficam de quarentena, porque é que agora isto tudo está a acontecer.
Explicar que o vírus SARS-CoV-2/COVID-19 provoca uma doença totalmente nova, muito parecida com a gripe, mas sem tratamento
específico e eficaz, nem vacina protetora. Isto é mesmo muito relevante! Explicar que vai afetar quase toda a gente e que, se para algumas pessoas será uma gripe simples (80% dos casos), para outras será uma infeção grave, que vai motivar idas ao hospital e internamento. E que ninguém conseguirá prever quem vai ter doença grave e quem não vai.
Precisamente porque todos podemos contrair a doença e não existe um meio rápido e eficaz (como a vacina) para a prevenir, nem um tratamento dirigido ao problema, é que é preciso controlar a transmissão. E para isso o que devemos fazer? NADA, rigorosamente nada: ficar em casa, descansar, vigiar sintomas e brincar com os nossos filhos em casa é travar ATIVAMENTE a transmissão viral.
Explicar que durante este processo não vai haver festas de aniversário, idas ao centro comercial, passeios de comboio, exposições, teatros ou concertos infantis é só reforçar a ideia geral de proteção.
Fonte:
https://lifestyle.sapo.pt/saude/noticias-saude/artigos/como-falar-com-as-criancas-sobre-o-covid-19-as-explicacoes-de-uma-pediatra