Vila Verde: Pedidos nove anos de prisão por escravizar[float=left]

[/float]O procurador do Ministério Público de Vila Verde pediu ontem o mínimo de nove anos de prisão para os quatro arguidos acusados dos crimes de ofensas graves à integridade física e de escravidão de que foi alegada vítima um jovem ao longo de 25 anos.
Ontem foi dia de alegações finais no julgamento do alegado caso de escravidão de que foi vítima um jovem com deficiência moderada numa quinta agrícola da freguesia de Coucieiro, concelho de Vila Verde.
Ao longo de várias horas de alegações finais, o procurador do Ministério Público, Carlos Cardoso, incidiu sobre o crime de escravidão, pelo qual não existe, até à data, qualquer condenação em Portugal, e abordou o caso em julgamento na perspectiva dos direitos humanos.
O jovem Rui Manuel, agora com 36 anos de idade, foi entregue, em criança, aos cuidados de familiares, proprietários da ‘Casa de Mascate’ de onde saiu pela mão da GNR e da Segurança Social em 24 de Novembro de 2004, depois de 25 anos de alegada escravidão e maus tratos.
No banco dos réus, sentam-se marido, esposa e dois filhos, que tinham a alegada vítima à sua guarda.
Face à prova testemunhal, documental e científica, o procurador Carlos Cardoso alegou que Rui Manuel “foi despojado de todos os direitos” pelos arguidos que “dele dispunham como coisa”.
A Rui Manuel “tudo foi negado” afirmou Carlos Cardoso que chegou mesmo a pedir desculpa à alegada vítima: “peço-te desculpa, em meu nome” “pela criança que não deixaram ser criança e pelo homem que não deixaram ser homem”.
Dirigindo-se ainda a Rui Manuel, declarou: “tu não viveste ao longo de décadas, foste proscrito, rejeitado como ser humano”.
O procurador enumerou vários exemplos de maus tratos alegadamente infligidos pelos arguidos que constam da acusação e que - segundo ele - foram confirmados por testemunhas e outras provas.
Trabalhos demasiado pesados para a sua condição física que começavam e acabavam de madrugada; agressões físicas; falta de cuidados de saúde; ausência de escolarização foram apenas alguns dos ‘factos&rsquo ; apontados pelo procurador.
“Malvadez e desumanidade” foram palavras que Carlos Cardoso usou para descrever algumas das situações a que Rui Manuel alegadamente foi sujeito.
O tipo de crimes e o facto de terem ocorrido em ambiente familiar “demandam uma intervenção punitiva com peso” alegou Carlos Cardoso, que apontou ainda a “elevada censurabilidade”, “a falta de colaboração com o Tribunal e a falta de arrependimento” dos arguidos.
Pelo crime de ofensas graves à integridade física, o procurador pediu uma pena de prisão não inferior a quatro anos de prisão e para o crime de escravidão uma pena não inferior a sete anos.
Em cúmulo jurídico, o representante do Ministério Público pediu uma pena não inferior a nove anos de prisão.
A alegada vítima e a mãe - que pela primeira vez assistiu a uma sessão do julgamento - ouviram as alegações finais, lado a lado.
A sessão foi interrompida e as alegações finais prosseguem no próxima dia 11 de Janeiro.
O advogado de defesa dos quatro arguidos, Artur Marques, deixou antever que vai pedir a total absolvição dos arguidos.
Requerimentos em dia de alegações finaisA sessão de ontem do julgamento da alegada escravidão ficou ainda marcada pelo pedido do advogado da acusação particular, Reinaldo Martins, no sentido de alterar o enquadramento de um dos crimes para ofensa à integridade física qualificada.
Pretensão que o advogado de defesa dos arguidos, Artur Marques, considerou “descabida”, argumentando que “não foi produzida prova dos factos”.
Reinaldo Martins apresentou ainda um requerimento relativo aos rendimentos declarados pelo arguido Casimiro Alves Pereira.
O arguido declarou um rendimento mensal a rondar os 400 euros e um automóvel, o que foi contestado por Reinaldo Martins que revelou que ele é proprietário de pelo menos 32 bens imóveis e mais dois veículos.
Artur Marques respondeu com o valor irrisório inscrito em várias das cadernetas prediais, a que soma um automóvel que classificou de “charuto” e uma “motoreta”.
in Correio do Minho