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Autor Tópico: Decatlo  (Lida 4574 vezes)

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Online SLB2010

Decatlo
« em: 28/04/2014, 11:00 »
 
Decatlo de Milan Grahovac


Foto: kurir-info.rs

É provável que o herói desta entrevista esteja farto de títulos como “Uma pequena pessoa com um grande coração” ou, em geral, de qualquer sufixo ou caracterização diminutiva ou aumentativa. E para que serviriam? Em 2009 foi declarado atleta do ano na Sérvia. No campeonato do mundo World Dwarf Games conquistou, para o seu país, as medalhas em todas as modalidades de natação e mais algumas disciplinas do atletismo.

Jovem, cheio de estilo, e, talvez o mais importante, alguém que não deixa ninguém indiferente. Milan Grahovac é uma pessoa de estatura baixa, pois nasceu com acondroplasia. No final da década de 80, durante a sua infância, foi tratado em clínicas na União Soviética, de acordo com os métodos do Dr. Ilizarov, tendo sido submetido a uma cirurgia que lhe permitiu aumentar a altura em 22 cm, mudando assim o curso da sua vida. Desde então não voltou à Rússia, mas na memória ficaram alguns truques, até no reality show “Big Brother” declarou-se em russo.

Em entrevista à Voz da Rússia, Milan Grahovac contou acerca da sua atividade filantrópica, sobre o movimento olímpico na Sérvia e, acerca do preconceito face a “pessoas diferentes”.

– Milan, quando a Sérvia juntava dinheiro para um novo coração para a pequena Tijana Ognjanovic, você escreveu que também recebeu ajuda para poder tratar-se na União Soviética. Conte-nos, como é que isso aconteceu?

–? Na altura, a Iugoslávia tinha um acordo com a URSS, portanto a nossa Segurança Social cobriu quase todas as despesas relativas à deslocação. Mas, os meus colegas de escola também me deram um grande apoio, e isso serviu-me de exemplo. Até hoje participo em ações de cariz humanitária, pois ajudar é dever de todo cristão.

–? Um acordo desses faz agora falta à Sérvia...

– Eis a questão. Esforço-me, nomeadamente através do meu “Movimento das pequenas pessoas”, para que a vida das crianças dependa, o quanto menos possível, do número de SMSs enviados. Para que o Estado crie um Fundo especial que permita às crianças receberem o tratamento médico adequado. Aliás, trata-se de um dos direitos fundamentais das crianças.

– Lembro-me que, em 2009, você ficou um pouco magoado, quando no Aeroporto Nikola Tesla, a equipa de polo aquático foi recebida com pompa, mas você, que trouxe uma miríade de medalhas do World Dwarf Games, não teve direito a isso. Acha que a situação está diferente agora, e o Estado apoia-o em termos financeiros?

–? Em 2009, as autoridades da região de Voevodino atribuíram-me uma verba para que pudesse ir a Belfast, em 2013 já não. Paradoxo: quando eu era um completo desconhecido recebia dinheiro, agora, passados quatro anos só consegui ir aos EUA para defender o título, exclusivamente graças ao apoio a diáspora e aos amigos estrangeiros da Sérvia, pois só recebi apoio de uma entidade oficial. A tragédia reside no fato de, na Sérvia, o desporto paralímpico estar pouco desenvolvido e concentrado, especialmente em Belgrado. É incomparável com o vosso país, bastando olhar para o exemplo dos últimos jogos em Sochi. E, isto perante o fato dos nossos atletas terem tido bons resultados em Londres. Tenho orgulho neles e, quando foram recebidos em Belgrado, foi um dos dias mais felizes da minha vida. Eles merecem o mesmo respeito que os atletas olímpicos.

–? É provável que saiba que nos Jogos Olímpicos de Sochi algumas medalhas da equipa russa foram ganhas por atletas que antes representaram outros países. Você aceitaria ser uma “ave migratória”?

– Eu até já estive em conversações com representantes de outros países. Mas já “não tenho idade”, tenho 35 anos. Os resultados estão a piorar, excepto talvez no caso do pingue-pongue, tendo no penúltimo campeonato do mundo alcançado o quarto lugar, e no último, o segundo. Mas, mesmo que estivesse no pico da forma física, é pouco provável que mudasse. A não ser que fosse para a selecção russa, o vosso povo é próximo do nosso, e, eu continuo em dívida.

–? Você já experimentou fazer teatro. Porque não seguiu esse caminho?

–? Em 2003 eu participei na peça "Woyzeck",e não foi como figurante, tive um papel relevante. Não aceitaria fazer o papel de bobo da corte ou qualquer outra parte que tivesse por objetivo ridicularizar as pessoas de baixa estatura. Participei ainda num vídeo musical de uma cantora pop sérvia, depois veio também o reality show “Big Brother”... Ainda pensei em continuar com a carreira de ator, mas mudei de ideias, na Sérvia é impossível, caso não se esteja dentro da norma.

–? Porque é que se coloca esta questão? No teatro de Alexandrinsky, em São Petersburgo, trabalha um dos actores de estatura reduzida mais célebres da Rússia, Alexei Ingelevich. Numa entrevista ele contou uma história ficcionada norte-americana segundo a qual a “pessoa pequena” poderia refazer todo o mundo à sua dimensão: os carros, as cadeiras, as casas, o cônjuge. Você aproveitaria essa oportunidade?

–? No que se refere a “pequenos” ou “grandes” cônjuges, para mim uma mulher é uma mulher. Tento conquistar a mulher que me interessa. O que importa é o que sinto por ela, não o seu tamanho. O carro que me agrada tentarei adaptar à minha medida, não irei procurar de propósito um carro pequeno. Etc. Eu não aproveitaria essa oportunidade.

– Vamos voltar ao caso de Tijana Ognjanovic. Na altura estava disposto a leiloar uma das suas medalhas e doar o dinheiro para o tratamento da menina. Infelizmente não foi possível salvar a vida de Tijana. Acha que este caso alterou o estado das consciências na Sérvia?

–? Todo o mundo continua a juntar dinheiro. O povo sérvio tem um grande coração e está sempre disposto a ajudar. O problema reside noutra questão, nomeadamente no fato de aqueles que estiveram no poder ontem, e estão hoje, não fazerem o seu trabalho como deveriam. E, mesmo assim, recebem muito dinheiro dos contribuintes. Eu, enquanto militante do partido do poder, não estou satisfeito com o seu trabalho, pois o partido não assume as suas responsabilidades perante os deficientes e as crianças que necessitam de ajuda. É possível proteger esses grupos, porém, parece que é mais importante discutir o “aspecto” do governo e ver quanto demora a formar a coligação. Temos que trabalhar de forma mais célere e eficiente.

–? Você criou uma conta no Twitter denominada “Acredita até ao fim” e disse na televisão, para que toda a gente ouça, “Sou um lutador”. Entretanto, milhões de pessoas em todo o mundo tomam antidepressivos e choram as injustiças do mundo. O que lhes recomendaria?

–? Sou um lutador, mas também tenho alturas em que não quero ver ninguém. Mas é possível ultrapassar o mais rapidamente possível este estado de alma. As coisas vão melhorar, acredite, é preciso ter fé. Não necessariamente em Deus. Há muitas pessoas de sucesso que são ateias, mas também há entre crentes como eu. Simplesmente todas acreditaram, mas sem isso é difícil ter um sentido para a vida e ir em direção ao que se deseja. Além disso é preciso trabalhar diariamente sobre si mesmo, para melhorar.

–? Tanto quanto sei, nos EUA existe uma novela reality show sobre uma família de estatura baixa. Nunca pensou em fazer algo semelhante na Sérvia?

–? Já tivemos essa ideia, mas só um canal respondeu, e mesmo assim nos termos “teremos em conta”. Queríamos fazer uma simbiose entre um reality show e competição desportiva para pessoas de estatura reduzida. Para podermos ganhar dinheiro para a viagem para os EUA, para o campeonato do mundo. Mas não conseguimos. Eu queria participar, desde que o projeto fosse respeitoso para as pessoas como nós.

–? Ainda existe muito preconceito na Sérvia?

–? Não se cingem a nós. Aliás, em primeiro lugar são discriminados os desempregados, os deficientes e as mulheres grávidas. No que concerne à comunidade homossexual, que passa a vida a gritar acerca da violação dos seus direitos, trata-se de pessoas que estão tão protegidas na Sérvia como os ursos polares por organizações ambientalistas. E, acredite, quando vou de mão dada com uma menina de estatura normal, apontam-me muito mais vezes o dedo do que aos homossexuais.

***

Milan Grahovac tem, atualmente, um bom trabalho e sonha terminar a licenciatura em Direito, que há muito abandonou, e claro, não deixar de lado o esporte, já na qualidade de treinador para pessoas de estatura baixa, para “não viajar sozinho para os campeonatos”. Atualmente, segundo a lei sérvia, pessoas como Milan não são consideradas deficientes, contudo, participam nos jogos paralímpicos. As dificuldades são muitas. Mas parece que o nosso interlocutor está pronto para as enfrentar. Trata-se de um atleta de decatlo, no esporte e na vida.

 
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/2014_04_27/Decatlo-de-Milan-Grahovac-4167/
« Última modificação: 21/09/2015, 15:22 por migel »
 

 



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