O xadrez deu sentido à vida do jovem LeopoldoRui Ramos
6 de Setembro, 2020
Leopoldo Siveinge Paulo Muikhulu nasceu em 7 de Setembro de 1999, há 21 anos, filho de Adriano Ndemulungila João (ex-FAPLA) e de Custódia Paulo Siwovano, vendedora ambulante.

Leopoldo Muikhulu é um verdadeiro amante do xadrez
Fotografia: DR
A infância de Leopoldo Muikhulu, conta-nos não foi um processo normal: “Embora tenha nascido normal, contraí deficiência física logo na primeira infância.” A família falava sempre que a sua deficiência não era por causa de doença, mas sim provocada por um familiar que o tinha atingido com o mal. Pelo menos, revela, era o que ouvia dizer a toda a hora.
Devido à sua deficiência, prossegue, Leopoldo Muikhulu foi muito discriminado e perseguido na sua meninice, ele ficava sempre doente e quando caía de cama os familiares argumentavam que alguém lhe tentava tirar a vida, baixava aos hospitais mas não acusava nada. Foi com esse estigma que Leopoldo Muikhulu cresceu.
Os pais decidem então sair do bairro em que moravam e mudam-se para um novo bairro, ao lado da Universidade Jean Piaget. Leopoldo Muikhulu não conseguia estudar, em casa não havia qualquer provento, o menino passava os dias envolto em escura tristeza. A irmã de Leopoldo Muikhulu vendia algumas bebidas e conseguiu alguns valores para o matricular o irmão mais novo.
A minha irmã sacrificou-se em extremo, passou enormes dificuldades mas pagou os meus estudos durante 2 anos, a segunda e terceira classes.
Mas depois a irmã soçobrou financeiramente e não tinha como pagar os estudos dos irmãos. No novo bairro, Leopoldo Muikhulu conhece o senhor Zé da Silva que o orienta para a LARDEF, um grupo que acolhia pessoas e ajudava com bens alimentares e a fazer pequenos negócios.
Então, um antigo combatente pôs Leopoldo Muikhulu a estudar numa escola chamada Nação Coragem “tio Neto”, onde ele acaba o ensino primário.
“Estudei sem pagar propinas durante 5 anos. Nessa escola havia um desporto chamado xadrez. Então um dia desses quando estava na sala de aula assistindo à aula de matemática o director pedagógico Zacarias Malundo João (também portador de deficiência física) perguntou quem queria aprender a jogar xadrez.”
Eu respondi: “Eu quero aprender xadrez!” Então Leopoldo Muikhulu passou a praticar e apaixonou-se pelo desporto. Toma conhecimento da escola de xadrez Macovi Sport Club, dirigida por Marceliano Correia Víctor e começa a ser integrado em torneios por várias zonas de Luanda, que ele conhece pela primeira vez.
E o xadrez levou longe os sonhos do jovem Leopoldo Muikhulu, que diz que chegou a receber uma proposta para jogar nos EUA, mas não pôde ir por questões financeiras. Mas a sua luta não parou por ai. “Fiquei 2 anos sem estudar quando terminei o ensino primário, nos anos de 2018 e 2019, contra a minha vontade, mas era impossível, eu não dispunha de meios.”
Mas no final de 2019 a Escola Macovi recebeu um convite da APEDSA no 6° Colóquio Internacional para Educação Especial, que aconteceu no dia 28 de Novembro de 2019, no INAC, alusivo ao 3 de Dezembro, Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Leopoldo Muikhulu interveio e falou das suas maiores dificuldades, o facto de não poder estudar por falta de meios financeiros e de facilidade de locomoção.
“Nem sempre os candongueiros aceitam transportar-me por ser uma pessoa deficiente, as vezes eu me sentia e me sinto abalado e triste. Por isso todos os dias quando pretendo pegar um táxi ou mesmo autocarro sou sempre ignorado, mas já me acostumei a esta vida de ser ignorado de sofrer bulyng.”
A Dra. Sílvia, directora do Instituto São Benedito, presente no colóquio, solidarizou-se com a história de Leopoldo Muikhulu e ofereceu-lhe uma bolsa de estudo. Então, aí está de novo o jovem a prosseguir os seus acidentados estudos.
“Gosto muito da escola, tem o curso que eu amo, Informática, e eu consigo finalmente frequentar o ensino médio.” Além de estudar, Leopoldo Muikhulu hoje é professor de xadrez do Centro de Acolhimento Horizonte Azul em Viana e na Escola Ditrov. “Uma das minhas maiores dificuldades é a locomoção, a minha cadeira de rodas está em mau estado e eu não tenho possibilidade de adquiri outra”, confessa Leopoldo Muikhulu, que igualmente pretende construir um quarto no quintal da casa dos pais para não mais dormir na sala.
“O meu maior sonho é ser um bom informático e um grande jogador de xadrez e exorto todas as pessoas com deficiência a não se sentirem pessoas incapazes de realizar os seus sonhos.”
Fonte:
http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/o-xadrez-deu-sentido-a-vida-do-jovem-leopoldo