Mostra gratuita reúne obras de artistas que pintam com a boca ou com os pésA exposição celebra a primeira convenção no Brasil da Associação de Pintores com a Boca e os Pés (APBP), organização internacional com matriz no Principado de Liechtenstein, entre a Áustria e a Suíça. A instituição representa cerca de 800 artistas em 75 países.
O público poderá conferir até sexta-feira o original das telas que aparecem em artigos de papelaria vendidos em todo o Brasil pela APBP.
A reprodução comercial das pinturas em itens como cartões-postais e de Natal, calendários, marcadores de livro e papéis de carta representa uma fonte de renda para 50 bolsistas da APBP no Brasil.
Tela de Carlos Fraga que estará na mostra retrata cartão-postal Foto: Divulgação
— O artista aceito pela associação após uma seleção passa a receber um valor mensal enviado pela matriz, em francos suíços. Essa bolsa ajuda na compra de material de pintura, no pagamento de um professor para aprimorar a técnica, em atividades de aperfeiçoamento. Conforme a qualidade do trabalho vai melhorando, o artista pode se tornar um membro associado (com direito a participar das decisões da entidade), e, depois, um membro efetivo (vitalício) — explica Paola Manograsso, diretora da APBP no Brasil.
O acervo da associação conta com trabalhos de artistas de países como França, Inglaterra, Alemanha, Japão, China e Austrália. Entre os 17 brasileiros que terão trabalhos expostos na mostra — 15 do Rio e dois de São Paulo — está Carlos Fraga, que apresentará duas telas.
Morador da Freguesia, ele se tornou tetraplégico nas primeiras horas de 1992, aos 18 anos, pouco depois de comemorar o réveillon na orla da Praia da Barra.
Tela de Marcelo Cunha tem destaque na mostra Foto: Divulgação
Pensando em evitar um acidente de trânsito, uma vez que ele e o amigo que o acompanhava haviam bebido, Fraga sugeriu que pernoitassem na praia, cada um em seu carro. De manhã, inclusive, já estariam ali para curtir um mergulho. Mesmo com toda a prudência, Fraga acabou envolvido em uma colisão.
— Na época não existia o calçadão que há hoje. Estacionávamos bem próximo da areia. Lá pelas 5 horas da manhã, uma motorista em alta velocidade perdeu o controle, saiu da pista, pegou a contramão, bateu num veículo que vinha no sentido contrário e acertou o meu carro. Ela bateu justamento na parte da porta perto do assento do motorista, onde eu estava dormindo, com os pés para o banco do carona, e me pegou em cheio — relembra ele, que acordou no hospital, quatro dias depois do ocorrido, tetraplégico.
Anos depois, por sugestão de um amigo, decidiu experimentar o desafio de pintar utilizando a boca.
— Tenho noção de que não ficou nada demais, mas, para quem nunca tinha pintado nem uma casinha com as mãos, o resultado foi surpreendente — diz ele, que a seguir fez cursos para se aperfeiçoar.