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Título: João Pinto regressa à vela adaptada no pódio europeu
Enviado por: migel em 20/10/2019, 15:04
João Pinto regressa à vela adaptada no pódio europeu
Por José Garrancho -18 de outubro de 2019 - 15:23

(https://www.barlavento.pt/wp-content/uploads/2019/10/jo%C3%A3o-e-fred-1068x601.jpg)

Atleta de Portimão ficou entre os primeiros na classe Hansa 303.
João Pinto é o atleta portimonense cuja grave lesão que sofreu, aos 26 anos, deixando-o insensível dos mamilos para baixo, não lhe tirou a vontade de viver, nem de ser desportista.

Há cerca de quatro anos, João Pinto abandonou a vela com dois excelentes resultados europeus: 2º em pares e 3º em singulares, na classe Hansa 303.

Dedicou-se ao para-ciclismo, modalidade em que tem vindo a evoluir, conquistando resultados cada vez melhores e também pratica natação.

Repentinamente, decidiu regressar à vela, conseguiu um barco emprestado, ficou em segundo no campeonato nacional, regressou ao Clube Naval de Portimão (CNP) e, duas semanas depois, é terceiro classificado nos europeus.

«Quando me iniciei na vela adaptada, destaquei-me logo da maioria dos atletas, porque pratiquei a modalidade desde criança e eles apenas após a lesão», explica ao «barlavento».

«Há uma coisa que ninguém nos tira, que é a nossa experiência de vida. A vela foi o desporto que mais tempo pratiquei como atleta federado, na minha infância e adolescência. E também depois da lesão. A falta de prática, contudo, faz-nos cometer erros. Quando temos alguém com uma experiência como a nossa, neste caso superior, a ver de fora e a explicar-nos o que foi feito menos bem e como pode ser corrigido, tudo melhora. E o Fred foi uma grande ajuda, nesse aspeto».

João Pinto refere-se a Frederico Coutinho Rato, o treinador de vela da classe Optimist no CNP, que nos disse que «tudo aconteceu quase de surpresa. Estávamos no convívio anual do clube e fiquei muito feliz por saber o seu resultado no campeonato nacional. Fiquei admirado ao ver como alguém que tinha estado parado tanto tempo, chegara ali, competindo contra pessoas que treinam regularmente e evoluíram, conseguira aquele resultado. Soube então que ele tinha entrado no clube e perguntei se tinha alguém para o acompanhar e ofereci a minha disponibilidade. Apenas porque a pessoa que o acompanhou no nacional tem uma profissão numa área diferente e nem sempre o pode fazer».

Embora o treinador, na sua humildade, diga que mais não foi do que um par de olhos extra a estudar o campo de regatas e um amigo para preparar a prova seguinte, quando o João necessitasse, o atleta considera que a sua colaboração foi preciosa para o resultado alcançado.

Rato, regra geral, trabalha com jovens entre os oito e os 16 anos, e desta vez treinou um atleta de 36 anos.

«Crescemos na mesma realidade da vela e há um entendimento mútuo, em tudo o que falamos. E houve uma empatia a partir do momento zero. Senti que não havia travões que nos impedissem de formar uma equipa e avançar até onde ele pudesse, graças aos seus conhecimentos e técnica. E viu-se que não estávamos errados, porque ele conseguiu» chegar ao pódio europeu.

Graças a um protocolo entre o Clube Naval de Portimão e o Clube de Vela de Viana do Castelo, o atleta algarvio tem à sua disposição um Hansa 303 para treinar e competir durante a próxima época.

A classe Hansa é caracterizada por usar embarcações com um centro de gravidade baixo e um patilhão lastrado, o que resulta numa grande estabilidade, sendo quase impossíveis de virar.

Agora, o objetivo é fazer as duas provas de apuramento nacional e o campeonato nacional. «Por norma, o primeiro classificado tem apuramento direto para os mundiais e é financiado pela Associação da classe», diz João Pinto.

«Mas parece que perderam um dos maiores patrocinadores e não se sabe se haverá verbas para patrocinar a ida ao campeonato do mundo, em Los Angeles, em 2020».

Logo, há que ganhar e, depois, arranjar verbas. «Temos de ser a primeira opção a ser selecionada.

Com o apoio do clube, do município ou municípios e os meus próprios patrocinadores, havemos de arranjar verbas para marcar presença no mundial», garante.

«Depois, o meu projeto é participar nos Paraolímpicos em França, em 2024, em para-ciclismo, em vela, se entretanto voltar a ser incluída, ou em ambas as modalidades».

(https://www.barlavento.pt/wp-content/uploads/2019/10/treino-com-optimist-2.jpg)
Um adulto diferente inspira os mais jovens
Um adulto com grandes limitações físicas cai no meio de um grupo de miúdos para treinar com eles. Reações? Segundo o treinador do Clube Naval de Portimão Frederico Rato, «o João tem uma alegria contagiante.

Embora, no início, tenha havido uma certa apreensão por parte dos jovens ao verem a sua limitação física, o gelo foi logo quebrado e, mal o João se aproxima da doca, já eles estão na água com a carreta de mar e o levam rampa acima, com alegria em ajudar. E também sabem que ele é um campeão na vela», descreve.

«Eu tentei pô-los logo à vontade e passar-lhes o testemunho», diz João Pinto. «Quando estamos a treinar, o Fred representa a teoria, e eu sou a parte prática.

Consigo realizar certas manobras táticas e técnicas que os mais jovens ainda não conseguem, passo-lhes ideais e os miúdos veem que o meu interesse não é ganhar-lhes, mas é haver um confronto sério e todos melhorarmos», diz.

No início, na aproximação às boias, onde há a possibilidade de os barcos se tocarem, «os miúdos estavam renitentes em se aproximar do João ou invocar direitos, mas ele disse-lhes logo que estava ali para se preparar o melhor possível e para não terem medo de o confrontar. A partir desse momento, ninguém lhe dá tréguas e a amizade aumenta. Está a ser uma experiência muito positiva para o João Pinto, para os jovens velejadores e para o próprio clube», considera Frederico Rato.

(https://www.barlavento.pt/wp-content/uploads/2019/10/jo%C3%A3o-em-prova-1024x576.jpg)
Vencer a deficiência para ganhar o pódio
Os graus de deficiência são diferentes. Por exemplo, Piotr Cichocki, o atleta polaco que ficou em 1º lugar movia-se bem, sem quaisquer apoios. O 2º classificado, australiano, tem uma doença degenerativa, move-se em cadeira de rodas, mas tem mobilidade. Como é que isto se processa?

«A vela é um desporto em que a pessoa mais velha, com mais experiência é quem vai ter mais soluções na hora da verdade. Embora seja um pouco injusto, quando há muito vento», diz João Pinto.

«Eu não ando e os dois primeiros andavam. Eles conseguiam fazer força com as pernas para fazer alavanca e eu não», compara. «Aí é que conta a nossa experiência. Tenho de antecipar um pouco o que vai acontecer, se vou apanhar uma rajada, mais corrente, uma vaga mais alta, para poder largar a borda e focar-me no leme e na escota e, assim que passar essa adversidade, voltar outra vez ao contrapeso. Não é isso que me vai fazer perder uma regata. Uma boa decisão tática a meio de uma regata vai trazer muito mais benefícios do que uma rajada naquele momento».

O treinador Frederico Rato confirma: «graças à sua arte e à capacidade de analisar bem as condições, tentar ginasticar tudo e coordenar bem os movimentos» que, em 303 Singles, João Pinto levou para casa o bronze na primeira prova internacional depois de quatro anos sem competir. O Campeonato da Europa de Vela Adaptada 2019 foi disputado por 113 atletas de 10 países que competiram pelo título em quatro classes – Hansa 2.3, Hansa 303 Singles e Doubles, e Liberty – de 7 a 12 de outubro.



Fonte: https://www.barlavento.pt/desporto/joao-pinto-regressa-a-vela-adaptada-no-podio-europeu